O Digital Business Congress da APDC é sempre o momento alto, em cada ano, para se fazer um ponto de situação sobre o que está a acontecer no mundo digital e de quais os seus impactos na economia e na sociedade. É também um local privilegiado para ouvirmos coisas novas, para nos informarmos sobre as grandes tendências, refletirmos sobre o futuro.
Creio que o Congresso deste ano é particularmente oportuno: os anos recentes têm sido de mudanças significativas na organização da economia global, na disponibilização a grande escala de tecnologias com potencial para afetar o modo como organizamos a nossa vida coletiva, na discussão da regulação da atividade digital e no modo como Portugal é afetado por todos estes fatores.
Assim, vivemos hoje mudanças significativas na organização da economia mundial. Se as décadas que se seguiram ao fim da guerra fria foram tempos de globalização e liberalização dos movimentos de dados, mercadorias e capitais, nos anos mais recentes as principais potências ocidentais têm percebido que a sobre extensão das cadeias de valor criou riscos para o abastecimento de bens críticos ao bem estar das populações, aumentou a dependência estratégica de componentes e tecnologias críticas importadas e fez acumular tensões na relação entre países e insatisfação e populismo nos países ocidentais, alimentadas pelas desigualdades geradas. São hoje os próprios Estados Unidos que apostam na des-globalização e no decoupling das duas maiores economias mundiais, com a tentativa de apoiar o desenvolvimento autónomo de tecnologias e capacidades produtivas no mundo ocidental.
Para a União Europeia, este é um momento particularmente decisivo: se não quiser perder a sua capacidade de liderança económica e de determinação do futuro dos seus 27 estados-membros, terá de saber como não perder as oportunidades nesta nova economia. Estou convicto que a construção de um verdadeiro mercado único, oferecendo às nossas empresas ganhos de escala e a dimensão necessária de mercado é condição decisiva para enfrentarmos os desafios globais com que nos confrontamos frente a outras regiões do Mundo.
Por outro lado, começam a ser disponibilizadas em massa tecnologias que há vários anos vinham amadurecendo: redes 5G, IoT, supercomputação, IA, metaverso, tokenização; tudo isso começa a estar disponível para as empresas e indivíduos de forma generalizada, e terá um impacte na transformação do modo como produzimos, gerimos e consumimos, cujos contornos mal podemos antecipar. Neste Congresso iremos discutir as mudanças que estão a ocorrer nas telecomunicações e nas tecnologias de informação, assim como as tecnologias emergentes que vão ter impacto no nosso futuro. Temos de refletir sobre o seu potencial de utilização e a forma como poderão disrromper os modelos de negócio e a organização social. Afinal, a APDC, enquanto associação, congrega todos os protagonistas dos ecossistemas tecnológicos no nosso país, pelo que o Congresso, vai ser local privilegiado de diálogo, de contacto e de reflexão para juntos, pensarmos o podemos fazer para definirmos os melhores rumos possíveis.
Os próximos tempos serão também de maior regulação sobre o mundo online, inevitável depois dos anos de crescimento sem controlo dos grandes players do digital. Neste âmbito, a UE27 destaca-se pela positiva, já que desde há anos se prepara regulamentação sobre os serviços e os mercados digitais ou sobre a utilização da inteligência artificial. Estou convicto que a EU, tal como estabeleceu um standard para o resto do Mundo no que respeita à proteção de dados, também agora o voltará a ser para outros aspetos da regulamentação do mundo digital.
Finalmente, Portugal! Estou convicto que a adoção decidida das tecnologias digitais nos permitirá, como país, dar verdadeiros saltos qualitativos. Mas apesar do país ter evoluído muito nas últimas décadas e de hoje registarmos uma alteração de fundo no perfil da generalidade das nossas empresas, muito mais exportadoras, enquanto estamos a desenvolver uma economia muito mais assente em serviços tecnologicamente avançados, há ainda múltiplos desafios críticos que urge enfrentar e ultrapassar. Se é certo que nos últimos anos, também por causa da pandemia, alguns segmentos muito significativos da nossa população se habituaram a utilizar mais a internet e muitas empresas passaram a ter uma presença digital e a digitalizar mais componentes do seu negócio, ainda há muito a trabalho a fazer junto de algumas camadas da população e do nosso tecido empresarial.
Por isso, é preciso continuar a reforçar a aposta na qualificação para o digital não só das pessoas como das empresas e como do próprio setor público. Só assim será possível uma utilização inovadora das tecnologias, que garanta progressos significativos em todas as áreas, que assegure a adoção de novos modelos de negócio, maior produtividade, além de, para a Administração Pública, maior eficiência, eficácia e transparência.
Só assim poderemos, efetivamente, assegurar um crescimento económico sustentado, que permita trazer maior qualidade de vida e bem-estar para todos, com a aceleração desta transformação estrutural que já está em marcha.
É neste momento interessante que vai decorrer o 32º Digital Business Congress. Um Congresso onde poderemos celebrar a excelência das telecomunicações portuguesas, assim como das tecnologias de informação e de uma economia cada vez mais assente na inovação tecnológica.
Todos temos um papel nesta discussão, que se realiza já nos dias 9 e 10 de maio. É determinante sabermos por onde queremos que o futuro passe, até porque é um ponto a que a todos interessa defender.
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