21 abril 2023 0:14
O TikTok devia ter imagens cruéis dos seus efeitos, à semelhança dos maços de tabaco
21 abril 2023 0:14
Alguns rapazes da rua montaram uma banda gótica; ensaiavam numa garagem, o que agora me parece absurdamente perigoso. No epicentro da maior epidemia de sida e ‘cavalo’ da Europa, as nossas ruas estavam cheias de carochos que assaltavam até as mães e avós — uma garagem com guitarras e amplificadores era um maná. Mas nós ainda tínhamos um sentido de risco e aventura física. Ou se tocava ali ou não se tocava. Eu não fazia parte da banda, era o pneu suplente que ficava ao lado a beber garrafinhas de vodka que misturava com Sumol — não tive sucesso como músico, também não teria prosperado como barman. Fui o manager da banda no único concerto que demos; nesse dia, saquei um cheque — 50 contos?, 100 contos? — a um partido político em campanha eleitoral. Sacar dinheiro aos políticos pareceu-me mais útil do que mostrar rabos a esses mesmos políticos. Já sabia que ia ser da geração à rasca, não da geração rasca. O sucesso financeiro não foi, porém, acompanhado de sucesso musical: tivemos de fugir do palco escoltados por alguém — a bófia?, alguns locais mais caridosos? — porque os indígenas da região centro não gostaram da nossa ópera gótica e começaram a atirar garrafas e maçãs, muitas maçãs, talvez porque estávamos a tocar ali na zona saloia da maçã.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.