21 abril 2023 0:08
A tecnologia oprime em vez de libertar porque a sociedade assim está organizada. Para vencer os perigos da máquina não se destrói a máquina, mas as relações de poder que a põem ao serviço da opressão. Seremos dominados pela IA porque, neste capitalismo, estamos reduzidos a ser produto e produtores. O problema não é tecnológico, é político
21 abril 2023 0:08
A meteorologia foi das primeiras a usar inteligência artificial (IA) para modelos de previsão. E, no entanto, como explica João Gabriel Ribeiro, diretor da “Shifter”, mesmo sendo uma ferramenta indicada para o fazer, a IA “não seria capaz de perceber se está a chover ou o significado da chuva de um modo geral” além do que pode ser traduzido em dados, através de um modelo prévio. Como a IA “nunca se molhou” nunca saberá mais do que a “descrição do que é estar molhado”. Por isso, conclui: “Aquilo que conhecemos por IA é cada vez menos similar à nossa inteligência.” Há, no temor de a nossa inteligência ser substituída por máquinas, algum desrespeito por ela. Se perguntarmos ao ChatGPT como resolver os problemas da habitação ou da inflação ele vai dar as respostas que mais encontra no espaço público, por serem as mais prováveis. Só parecem neutras porque são plausíveis. Não as vai pôr em causa ou verificar se as soluções resultaram. Num processo opaco, até para quem o concebeu, pode oferecer-nos o erro sem se socorrer do mecanismo mais humano da inteligência: a dúvida. O que a IA faz é replicar a nossa mediania com a arrogância do acesso quase ilimitado a bases de dados.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.