Opinião

O cuidado com os mortos — guerra e paz

6 abril 2023 0:40

Os relatos da guerra aí estão, noutro ponto do espaço, e aí continuam, e em parte chocam também por isto: pela pouca ou nula atenção dada a um corpo abatido

6 abril 2023 0:40

Como se deve entrar na morte, nos penúltimos aposentos que a ela dão acesso? Escreve Agustina: “É uma tola que até para morrer pediu uma cabeleireira e só depois o padre.” (“O Comum dos Mortais”). Para que se embeleza o moribundo diante do espelho, e para quem?

Entrar belo na morte não é um luxo, mas quase uma necessidade. De quem? Do próprio e mais até dos que dele cuidaram até ao fim. Quero que quem amo vá belo no último passeio pela cidade; o passeio de um sonâmbulo com dois pés fora do sono; sem pesadelos nem alucinações — vai calmo aquele que antes era colérico, igualzinho ao tranquilo: calmos vão todos os mortos — não há vida inquieta que os alvorace, não há sabedoria que os acalme ainda mais.