Neste tempo, em Portugal, há as notícias, as fake news e a realidade alternativa socialista. Estas últimas - as fake news e a realidade alternativa socialista - são marcas inexoráveis do populismo crescente e causas - não únicas, mas importantes - da deterioração da democracia. Devem ser judiciosamente desmascaradas. Nem que para isso se tenha de fazer um desenho ou, dito de outra forma, explicar o básico.
"O PIB representa o resultado final da actividade económica dos residentes - sociedades, famílias, instituições sem fins lucrativos e Administrações Públicas - num território num dado período de tempo - geralmente num ano ou num trimestre. Corresponde à noção de valor acrescentado, uma vez que o consumo intermédio utilizado para produzir outros bens/serviços é descontado (evitando a sua dupla contabilização)". Quem o diz é, no seu site, o Conselho de Finanças Públicas, partilhando uma definição também usada pelo Instituto Nacional de Estatística.
Esta semana, nesta matéria, ficámos oficialmente a saber o que já sabíamos: Portugal foi ultrapassado pela Estónia e pela Letónia em PIB per capita.
A notícia é má? Não, porque o dr. Prata Roque, insigne jurista, ex-adjunto no Governo do eng. Sócrates e ex-secretário de Estado no Governo do dr. Costa, tratou de nos explicar, num tweet que ficará para a história como peça central da doutrina socialista nacional, que "o aumento do PIB só beneficia grandes fortunas", e que quem o deseja "quer um país de oligarcas".
Os dislates não se ficam por aqui. Assim que, no rescaldo do evento que a Câmara Municipal de Lisboa organizou para celebrar os 30 anos do Programa Especial de Realojamento (PER), o mais importante e eficaz programa público de habitação e alojamento de famílias das últimas décadas, lançado por Cavaco Silva, o dr. Prata Roque tratou prontamente de informar que o PER era, afinal, obra socialista. Só o abandono, nada institucional e bastante indigno, de Ricardo Leão e de Luísa Salgueiro durante o discurso do Presidente Cavaco Silva, o antecederam na barraca.
E por falar em barraca: para o dr. Prata Roque, armado de estatísticas, há em Portugal 1,4 casas por cada agregado. Uma ucharia, vejam lá. Conclusão: há que redistribuir as que existem, porque construir mais casas é coisa de "patos bravos", e "esse tempo acabou". O facto da construção ser uma indústria que cria riqueza e o facto das casas pertencerem a quem as comprou, pagou IMT, imposto de selo, paga IMI, suporta taxas e taxinhas diversas, paga condomínios e é responsável, nos termos da lei, pela sua manutenção e pela limpeza dos terrenos à sua volta, quando em meio rural, são detalhes irrelevantes na cruzada de redistribuição da riqueza, do dr. Prata Roque.
Não sei bem em que realidade é que o dr. Prata Roque vive, mas intuo, porque coerente e prolixo ele é: nunca vi tanta anedota atrevida debitada em tão pouco tempo, nem nos espectáculos do Fernando Rocha. Justiça devida: o Fernando Rocha tem mais pudor. Mas prossigamos. Se o crescimento da riqueza é anátema e se a protecção dos pobres é desígnio, pergunto o óbvio: como é que se redistribui uma riqueza que não se pode criar? Já sabemos que o dr. Prata Roque, num país pejado de pobres, não gosta de construtores nem de comerciantes (e, provavelmente, de nenhum malandro que se atreva a ter lucro).
Talvez seja, afinal, a felicidade o que importa, e de que o cavalheiro tantas vezes fala. Gosto disso. Felicidade, essa coisa maravilhosa e de difícil e equívoca medição, que a Constituição norte-americana define, e bem, sublinhando nisso a liberdade (o insigne jurista faltou a esta aula), como um direito fundamental: todos os homens são dotados "com certos direitos inalienáveis, e que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade".
Dizia de difícil e equívoca medição, mas nada que, ainda assim, não se faça, em índice, a partir de certos indicadores, como - imaginem lá… - o PIB, a esperança de vida, a generosidade, o suporte social, a liberdade - que horror! - e - que inconveniência… - a percepção de corrupção. Ora, de acordo com os dados constantes no site da The Global Economy, Portugal é, nesta matéria, na União Europeia, o antepenúltimo país, apenas melhor que a Grécia e a Bulgária e, na Zona Euro, o penúltimo país, apenas melhor que a Grécia.
Aspecto positivo: com os nossos Tiririca pior não fica; daqui em diante, só pode ser Avante! Deixo ao critério do estimado leitor a interpretação que da afirmação quiser fazer: ambas são válidas. Nota adicional relevante, se tiver dificuldade em escolher: considerando a lista de todos os países do mundo, segundo o site Countryeconomy.com, Portugal, em 56.º lugar, está mais próximo da Venezuela, em 108.º, do que da Finlândia, em 1.º. Repito: Avante!
Este tempo que vivemos é o tempo transformado espelho da Nação. Neste tempo, Portugal voltou a descer no ranking do PIB per capita. Neste tempo, no anúncio que o Governo faz de medidas de combate à crise, reconhece 3 milhões de portugueses e 1 milhão de agregados em condições de vulnerabilidade. Neste tempo, o programa "Mais Habitação", em consulta pública, é um somatório indigente e inconsequente de impossibilidades práticas. Neste tempo, proliferam por aí spin doctors socialistas a dizer que a subida do PIB só beneficia grandes fortunas, ataques abundantes a Carlos Moedas e a Cavaco Silva e outras inanidades.
Neste tempo em que vivemos, em que somamos dias a mais aos 22 anos de governo socialista nos últimos 28, vivemos um tempo de pagode do Prata no país do pechisbeque.
Pedro Gomes Sanches escreve de acordo com a antiga ortografia
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