17 março 2023 0:02
Os tempos estão cheios de cavaleiros andantes de tristes aventuras destas. Ao mais alto nível, chamam-se Bezos, Musk, Zuckerberg e apresentam-se à Humanidade como génios dos tempos modernos
17 março 2023 0:02
Suspendam a respiração enquanto nos garantem que o Silicon Valley Bank não tem nada a ver com o Lehman Brothers, que a Califórnia fica muito longe daqui e que o sistema bancário europeu de hoje não tem nada a ver com o de 2008. Suspendam a respiração porque já ouvimos isto antes e sabemos o que se passou depois, quando tudo desabou num instante como um castelo de cartas minado pelo mais simples e devastador dos males: a falta de confiança. A falta de confiança dos depositantes dos bancos e o pânico que rapidamente lhe sobrevém é justamente aquilo que, sobretudo depois de 2008, nos garantiram que não voltaria a acontecer, pois a lição fora aprendida e os reguladores nunca mais iriam afrouxar a guarda sobre essa imprevisível classe profissional dos banqueiros. Mas eis que ouvimos Biden dizer agora que ia apertar o controlo e a regulação, porque afinal ainda persistem zonas livres à disposição da imaginação e do aventureirismo dos banqueiros. As explicações técnicas e científicas para a falência do Silicon Valley Bank — certíssimas e lógicas a posteriori, como sempre — assentam na mesma raiz do mal tantas vezes vista antes: cobiça, risco desmedido, apostas num céu sempre azul, irresponsabilidade da gestão... Nada que não fosse previsível, pois essa é a natureza infalível dos banqueiros dos tempos modernos, aqueles a quem confiamos as nossas poupanças e que, na hora do desastre, temos de socorrer com os nossos impostos. Deve haver outra forma de fazer banca, mas, por alguma misteriosa razão, nem eles a cultivam nem os governos a ela os obrigam. Enfim, suspendamos a respiração a ver se desta vez os salvamos do desastre. Aliás, não há nada mais que possamos fazer.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.