Opinião

O riso e o ricto

3 fevereiro 2023 0:38

Em Bill Murray a dissonância entre a personagem e a função que a personagem desempenha gera uma espécie de síndrome do impostor

3 fevereiro 2023 0:38

O “ricto” não é um riso, mas quase: trata-se, diz o dicionário, de uma contracção dos lábios ou da boca que descobre os dentes. Um riso nervoso, então, um jeito ou trejeito, um sarcasmo ou um desconforto. Muitos actores, em particular no cinema, prevaleceram-se de uma expressão facial incongruente que potencia a comédia, pelo menos desde Buster Keaton, melancólico de águas profundas. Bill Murray, o melhor comediante de cinema da sua geração, não parte dessa intensidade, mas de uma incomodidade: as suas personagens não querem estar onde estão, fazer o que fazem, como o actor que ele é, não quer ser um actor, muito menos um comediante. Daí que o seu comportamento seja o de um cínico enfastiado, alguém não suporta convenções, obrigações, demoras, sentimentalismos, e que prefere, como Álvaro de Campos, que os outros vão para o diabo sem ele ou que o deixem ir sozinho para o diabo.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.