Opinião

O Papa que protege e desprotege os homossexuais

O Papa que protege e desprotege os homossexuais

Luís Carlos Batista

Psicólogo clínico

Por várias vezes, o Papa Francisco referiu publicamente que as pessoas homossexuais devem ser acolhidas como os demais, mas contradiz-se quando se continua a referir à homossexualidade como um pecado

Numa recente entrevista à agência de notícias Associated Press, a autoridade máxima da Igreja Católica, o Papa Francisco, refere-se ao ato homossexual como um pecado depois de, várias vezes, apelar publicamente ao acolhimento da comunidade LGBTQI+.

A posição da Igreja Católica continua a ser ainda hoje, um dos grandes fatores de stresse e de promoção de preconceitos negativos sobre esta população.

Se pensarmos em todas as pessoas homossexuais que são católicas, quando confrontadas com estas declarações, podem resultar daí sentimentos negativos sobre o próprio. Nomeadamente, o poder sentir que o desejo e a atração por pessoas que assumem a mesma identidade de género é errado, não é aceite, é pecado.

O impacto deste tipo de sentimentos na vida mental são inúmeros, e que podem resultar em problemas como depressão, ansiedade e suicídio na comunidade LGBTQI+.

Nos últimos anos temos assistido, enquanto sociedade, a uma maior visibilidade e aceitação social, mas a verdade é que ainda não estamos num ponto de igualdade de aceitação e respeito. Em vários círculos sociais, profissionais e até familiares, a aceitação de pessoas LGBTQI+ ainda é sentida como um obstáculo e como um fator de grande stresse.

Não é raro ver no meu consultório pessoas homossexuais que ainda relatam episódios de rejeição.

Há umas semanas, discutia num grupo de estudo de Nova Iorque, do qual faço parte, dedicado à saúde mental na comunidade LGBTQI+, o papel que a medicina, a psicologia e a Igreja têm junto desta comunidade. E, ainda hoje, e apesar de a homossexualidade já não ser considerada uma doença, há profissionais destas áreas que continuam a considerar a homossexualidade como algo que não é natural nem normal, mas como um desvio ou uma dificuldade afetiva.

É certo que tanto a área da medicina como da psicologia, têm feito o esforço de reconhecerem os erros que cometeram no passado, quando identificaram a homossexualidade como uma doença, e as repercussões que isso teve e que ainda hoje são sentidas. No entanto, o caminho ainda é longo, uma vez que ainda existe abertura para se considerar a homossexualidade como algo não natural, ou como reação de um trauma ou dificuldade emocional.

A Igreja também aqui assume um papel crucial, pois se por um lado apela ao respeito, por outro afirma que não é natural e que é errado quem pratica atos homossexuais. Esta bipolaridade da igreja é mais uma forma de reforçar preconceitos e de não permitir que se chegue a um ponto de igualdade de respeito e de aceitação.

Para terminar, e a todos aqueles que ainda têm dúvidas sobre se a homossexualidade é ou não natural, terão que conseguir responder à questão – o que dá origem à heterossexualidade? A ciência ainda não conseguiu responder a esta questão.

No fim de contas, todos somos pessoas, com direitos e deveres, que merecemos respeito e dignidade, independentemente das características pessoais, que nos tornam únicos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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