Banho de ética à PS
Com um belo pecúlio no mealheiro, Alexandra Reis transitou da administração de empresas públicas para a esfera política mais depressa do que um membro da Juventude Socialista transita para assessor de um gabinete do Governo
Chefe de Gabinete e membro do Conselho Nacional da IL
Com um belo pecúlio no mealheiro, Alexandra Reis transitou da administração de empresas públicas para a esfera política mais depressa do que um membro da Juventude Socialista transita para assessor de um gabinete do Governo
O caso de Alexandra Reis, a nova secretária de estado do Tesouro, é mais um caso típico dos que gravitam em torno da governação socialista, em especial após a perniciosa maioria absoluta, em que tentam que os conceitos de lei e ética se confundam.
Alexandra Reis renunciou ao cargo de administradora da TAP em fevereiro deste ano, para o qual tinha sido nomeada em 2020. Tinha mais dois anos de mandato pela frente e, apesar de ter saído pelo próprio pé, recebeu meio milhão de euros de indemnização. Isto numa empresa que, segundo António Costa e Pedro Nuno Santos, precisava de ser salva e reestruturada, o que implicou despedimentos, fortes cortes salariais e já custou aos contribuintes mais de três mil milhões de euros.
Em fevereiro deste ano, a TAP enviou um comunicado à CMVM em que dava nota de que tinha sido a própria a apresentar a renúncia ao cargo porque decidiu encerrar esse capítulo da sua vida profissional e abraçar novos desafios. Não se percebe, então, como aparece o conceito de indemnização neste enquadramento.
Mas a história não acaba aqui. Menina querida de Pedro Nuno Santos, um dos principais responsáveis pela tragédia que é a gestão política do dossiê TAP, e apenas escassos meses depois de sair da empresa de aviação, Alexandra Reis foi nomeada pelo Governo para presidir à NAV e uns meses volvidos foi nomeada secretária de Estado do Tesouro.
Com um belo pecúlio no mealheiro, transitou da administração de empresas públicas para a esfera política mais depressa do que um membro da Juventude Socialista transita para assessor de um gabinete do Governo.
Portanto, esta história tem contornos muito duvidosos que urge esclarecer. Que enquadramento foi dado para o pagamento de uma indeminização a alguém que apresentou a renúncia a um cargo? Qual o fundamento e a base de cálculo para se chegar ao valor de 500 mil euros? Como é que apenas quatro meses após sair da TAP, Alexandra Reis foi nomeada presidente da NAV por supostamente ser a mais indicada para aquelas funções, para, afinal, outros tantos meses depois já não fazer falta na NAV e ser nomeada secretária de Estado do Tesouro?
E a cereja no topo deste queque que guincha estridentemente é o despacho conjunto dos ministros das Infraestruturas e das Finanças, Pedro Nuno Santos e Fernando Medina, onde pedem explicações à TAP sobre a indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis. Repito: os dois ministros que partilham a tutela da TAP, uma empresa que foi trazida para a esfera pública por responsabilidade do PS e porque dá jeito ao PS, querem saber o que se passou com esta sua administradora.
Em que é que queremos acreditar: que são displicentes e profundamente incompetentes ao ponto de desconhecerem os moldes da saída da administradora - por sinal, muito amiga do PS, pois nem um ano depois está no Governo - ou andam simplesmente a gozar com a cara dos portugueses?
Os casos são cada vez mais grotescos e António Costa, mostrando estar a desfrutar da crescente obscenidade política do que anda à sua volta, está no palco num cenário lynchiano, cruzando a perna em frente à cortina vermelha. Paguem e habituem-se.
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