Opinião

Não se habituem

23 dezembro 2022 0:02

Não admira que o IL tire o sono a António Costa. Porque, goste-se ou não das suas ideias, elas são a única coisa nova na política nos últimos 20 anos. E novidades que dão que pensar e que mexem com o Estado é tudo o que o PS mais detesta

23 dezembro 2022 0:02

Há, de facto, alguns sinais de arrogância na maioria, que são crescentes e preocupantes. Mais do que da parte do Governo, eles vêm sobretudo da parte do primeiro-ministro e da maioria parlamentar e parecem reflectir um sentimento, que é transversal ao país, de paralisia, de impasse, de falta de horizontes e de esperança. Não creio, absolutamente, que António Costa alimente, escondidos lá no fundo, quaisquer instintos ditatoriais ou tentações de “simplificação” do processo democrático. O seu “habituem-se, que vão ter que levar comigo mais quatro anos”, não passou de uma demonstração de força perante si próprio — o que, no fundo, é uma demonstração de fraqueza. Por mais que alguns números lhe sirvam ainda de conforto e que os dinheiros do PRR possam disfarçar temporariamente algumas coisas, ele sabe que no essencial o país não vai avançar, todos os velhos problemas se vão manter ou agravar e nenhuma ruptura determinante será feita nem ele ousará propô-la.