Opinião

Racismo nas forças de segurança — é impossível desvalorizar

16 dezembro 2022 0:18

Quando o tema é o racismo no interior das Forças de Segurança, o primeiro passo é dar lugar ao “explicador” para potenciais ofendidos “patriotas”

16 dezembro 2022 0:18

Sempre que surge uma notícia relevante que obriga à discussão do tema que lhe está subjacente fazemos de conta que o tema é novo. Se o tema é o racismo no interior das forças de segurança (FS), a memória é posta no trabalho feito até “aqui” (apuramento de responsabilidades, explicação do Plano de Prevenção de Manifestações de Discriminação nas FS, reforço da formação, etc.), mas há uma omissão relativamente ao que aconteceu antes do “aqui”. A atitude de amnésia (de muita gente) começa logo no discurso pós-revelação do discurso de ódio no interior das FS. Quando o tema é a violência doméstica, sublinharmos a brutalidade do machismo existente na sociedade portuguesa — e ninguém deduz que estamos a afirmar que todos os homens são machistas —, nunca esquecemos que estamos perante um “fenómeno” que é estrutural, que é antigo e que há muito por fazer. Quando o tema é o racismo no interior das FS, o primeiro passo é dar lugar ao “explicador” para potenciais ofendidos “patriotas”. O “explicador”, aqui, passa por dizer muitas vezes que não se confunde a árvore com a floresta, que “casos de racismo” “não mancham a instituição” e, claro, que Portugal pode ser machista, homofóbico, tudo e um par de botas, mas não é, isso não se pode dizer, racista. Aliás, Portugal, um país com uma ditadura colonialista de quase 50 anos e com a especificidade de ter feito guerra colonial em ditadura, safou-se, imagine-se, de ser um país racista, com instituições racistas ou com essa coisa do racismo estrutural. O que se passou, e é só, e está em investigação, foi a descoberta de mensagens de ódio entre agentes das FS.