16 dezembro 2022 0:27
Aquilo que os generais de gabinete e os fanáticos veem como cobardia é, na verdade, a manutenção da sua integridade no meio do inferno — não sei o que pode ser mais natalício do que isto
16 dezembro 2022 0:27
É um fenómeno estranhíssimo, eu sei: no natal, época em que as outras pessoas veem o “Love Actually” ou o “Sozinho em Casa”, eu só quero ver grandes filmes ou séries de guerra. Revejo por estes dias “The Pacific”, “Band of Brothers” ou “Cartas de Iwo Jima”. Porquê? Porque é aquilo que eu costumava ver com o meu pai quando era pequeno e, portanto, a pólvora é a senha da minha infância? Porque através de um filme de guerra consigo perceber a sorte que tenho por não ter de passar por aquela desumanização lunar que não oferece qualquer esperança ou redenção (“The Pacific”)? Porque através do filme de guerra experimento a sensação de irmandade que os soldados cavam ao longo da sua saga e que permite, apesar de tudo, encontrar um lado remotamente solar e humano na guerra, os momentos de heroísmo e até de graça (“Band of Brothers”)? Porque só um grande filme de guerra permite o exercício literário, moral e até físico que é ver e sentir o mundo através dos olhos do inimigo?