16 dezembro 2022 0:16
A Europa irá descobrir que ficou sozinha num continente em desagregação e num mundo sem eixos de referência nem pontes entre realidades diversas e interesses diferentes, onde triunfará a lei dos mais fortes. E não será a nossa
16 dezembro 2022 0:16
Eva Kaili não é apenas uma mulher bonita, é linda. Linda, nova, prestigiada, com um emprego de luxo e uma vida magnífica a fazer aquilo que gosta: a participar directamente na definição das políticas europeias como deputada e vice-presidente do Parlamento Europeu durante os últimos oito anos. É difícil de perceber e, menos ainda, de aceitar o que mais poderia ainda esta grega desejar para si ao ponto de agora estar fechada numa cela de uma prisão belga acusada do mais indigno dos crimes que podem recair sobre alguém que faz política em representação dos cidadãos: ter-se deixado subornar para sustentar no Parlamento Europeu opiniões contrárias a todo o seu historial político e, a troco de um montão de dinheiro a perder de vista, acabar a defender a política de direitos humanos e laborais do Catar. Vem-me à memória uma reportagem que fiz na Grécia, quando Portugal entrou na então CEE, com um dono de uma exploração agrícola, que me explicava que era costume estenderem grandes superfícies de redes verdes nos campos para que os satélites de observação pensassem que eram plantações e Bruxelas lhes pagasse os subsídios acordados, ou as 140 profissões de “desgaste rápido” que permitiam aos gregos reformarem-se com a pensão por inteiro ao fim de 25 anos de trabalho, ou o recurso aos especialistas do Goldman Sachs para os ensinarem a martelar as contas públicas antes de entrarem em inevitável default, ou algumas outras experiências desagradáveis de simples honestidade de tratamento lá vividas, e pergunto-me se haverá alguma coisa de errado com os gregos e o dinheiro. Mas sei que é injusto e perigoso generalizar e que o mais justo e mais seguro é tomar o caso de Eva Kaili e dos seus associados (incluindo o namorado italiano) por aquilo que é à vista: mais um caso da aparentemente insaciável cobiça de alguns humanos por cada vez mais dinheiro. O síndroma Tio Patinhas, que aprendemos na infância sob a forma de brincadeira e não de coisa séria.