A provocação passou a ser uma qualidade autónoma. Quem incomoda com posições repulsivas tem a qualidade de incomodar, não o defeito de ser repulsivo. O valor de mercado de uma ideia da capacidade de criar tração, despertar os sentidos, mesmo que sejam para o vómito. O elogio de Kanye West a Hitler, depois de passear a sua camisola White Lives Matter, garantiu-lhe atenção. A ignomínia vende bem e o que vende bem, mesmo que incomode a maioria, passa de produto mediático a produto político. Até com vendedores imbecis
Um negro que anda com uma bandeira confederada estampada no blusão não pode ser levado a sério. Kanye West é um exibicionista. Provocador. Politicamente incorreto, está na moda dizer-se. Mas a provocação passou a ser uma qualidade autónoma. Quem incomoda com posições repulsivas tem a qualidade de incomodar, não tem o defeito de ser repulsivo. O sucesso amoral do que é abjeto resulta do seu atual valor de mercado. Nas redes sociais e na torrente interminável de informação, a luta de todos é pela atenção. O valor de mercado de uma ideia não depende da sua credibilidade (nunca dependeu), da sua aceitação (como até há pouco tempo) ou da sua novidade. Depende da capacidade de criar tração, ser viral, despertar os nossos sentidos, mesmo que sejam para o vómito.
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