Opinião

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9 dezembro 2022 0:10

A certa altura o que parecia insignificante ganha outro peso e outra emoção, porque há momentos que são transformadores

9 dezembro 2022 0:10

O que me impressionou nos filmes de que mais gostei em 2022 foi serem tão poucos e quase todos de cineastas da minha idade ou mais novos. O primeiro dos seis, em termos cronológicos, estreou-se nos últimos dias de 2021, mas vi-o em Janeiro deste ano, por isso conta para este efeito. Paul Thomas Anderson tem preferido temas graves aos ligeiros, e não fazia nada como “Licorice Pizza” há 20 anos, desde “Embriagado de Amor”. Em vez do romantismo absurdista desse filme, temos agora a poesia embaraçada e desembaraçada da juventude, e um novo casal bizarro, Alana Haim (uma das Haim, a banda) e Cooper Hoffman (filho de Philip Seymour Hoffman, e aparente herdeiro do seu talento). Em “Licorice Pizza” já não se trata de cineastas dos anos 90 a homenagear mestres dos anos 70, mas a regressar biograficamente aos anos 70, mesmo que as histórias sejam as dos seus pais ou irmãos mais velhos. Gary Valentine, a personagem de Hoffman, é um rapaz que se vai safando com aquilo que inventa, que arrisca, porque tem, nos negócios como nos amores, uma confiança que excede a verdade empírica dos seus méritos. Vamos notando ou reconhecendo as referências americanas ou mundiais a 1973, mas Anderson, que nasceu em 1970, não se pode lembrar de 73, e isso faz desta vibração autobiográfica da adolescência uma vibração imaginada, nostálgica, com um tom contraditório de dormência e fluidez que tem o seu auge numa longa descida automóvel em marcha-atrás.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.