Opinião

Duas colheres de eufemismo de 8 em 8 horas

9 dezembro 2022 0:14

Em Portugal, a realidade tem de se esforçar muito para ser considerada caótica

9 dezembro 2022 0:14

Ou muito me engano ou o ministro da Saúde descobriu finalmente a solução para os problemas do SNS. Confrontado com o facto de o tempo médio de atendimento, nas urgências do Hospital de Santa Maria, superar as 11 horas, Manuel Pizarro disse que não se verifica um cenário de caos, mas sim de grande dificuldade. Os utentes que nesse dia tinham entrado na urgência às oito da manhã e às 19 horas ainda não tinham sido atendidos devem ter suspirado de alívio. Uma coisa é uma pessoa estar metida no caos, outra é estar meramente envolvida em grandes dificuldades. Quaisquer cinco minutos de caos custam mais do que 11 horas de grande dificuldade. O ideal seria que o ministro aplicasse o mesmo tratamento eufemístico a todo o universo da saúde. Chamar “urgências” às urgências é capaz de ser demasiado dramático. Na maior parte das vezes, são apenas casos que requerem relativa pressa. E a ideia de que quem se dirige ao hospital são doentes também roça o exagero. Em alguns casos não se trata bem de doenças, são cidadãos que sentem uma moinha. Mesmo a designação de “hospital” traz à memória imagens desagradáveis: compressas, agulhas, o cheiro a éter. Porque não a Estância de Santa Maria? Não existe, evidentemente, uma situação de caos em que os doentes são obrigados a esperar mais de 11 horas nas urgências do Hospital de Santa Maria. O que se passa é um cenário de grandes dificuldades em que apesar disso alguns cidadãos com uma moinha têm tido a oportunidade de serem atendidos em menos de 12 horas na zona de relativas pressas da Estância de Santa Maria.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.