25 novembro 2022 0:35
Kafka morreu muito novo, mas mesmo que vivesse o dobro teria dificuldade em concluir um livro sobre um Joseph K. português
25 novembro 2022 0:35
Quando falamos da existência trágica de Franz Kafka é importante não esquecer que podia ter sido pior. Ao menos, ele não viveu em Portugal no século XXI. Uma coisa é escrever sobre a desumanidade da máquina judicial em Praga, no início do século XX. Outra é descrever um processo em Portugal, em 2022. Em vez de 300 páginas, o livro teria 30 mil. Kafka morreu muito novo, com apenas 40 anos, mas mesmo que vivesse o dobro teria dificuldade em concluir um livro sobre um Joseph K. português. Veja-se, a título de exemplo, o caso do cidadão Duarte L. Em 2009, Rosalina Ribeiro foi assassinada a tiro no Brasil. Em 2011, Duarte L. foi acusado do seu homicídio. Em 2022, o julgamento de Duarte L. ainda não começou, por um motivo bastante kafkiano: as testemunhas brasileiras ainda não foram notificadas. Notem que o problema não é o facto de as testemunhas ainda não terem testemunhado. O problema é não terem ainda sido chamadas a testemunhar. Não sei se já disse, mas a acusação tem 11 anos.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.