Opinião

A loira da kizomba

25 novembro 2022 0:12

É ou não é absolutamente espantosa a forma como a esquerda pós-moderna recuperou todos os vícios da velha direita nacionalista e retrógrada para depois convencer as pessoas que esses vícios à direita são enormes virtudes à esquerda?

25 novembro 2022 0:12

Tenho pensado bastante num texto magnífico que Kalaf (Buraka Som Sistema) publicou há uns anos na revista “Ler”: “A Obra do Negro”. O texto reflete sobre a Lisboa que ajudou a inventar o kuduro, uma mistura entre a kizomba dos africanos e a techno/house dos brancos. No final do século passado e início desde século, porque é que alguns jovens negros, como o próprio Kalaf, deixavam as discotecas africanas como o Mussulo e entravam no terreno branco e eletrónico do Kremlin? Porque as disco africanas eram demasiado rígidas e formais no vestuário, para começar, e porque as mulheres africanas eram menos desinibidas do que as mulheres brancas, para terminar. Não por acaso, quem era a melhor dançarina de kizomba de Lisboa, segundo Kalaf? Não era nem africana nem negra, “era uma loira de Loures”. Pois, eu aposto que também conheci essa loira de ancas heterodoxas.