18 novembro 2022 0:50
O que pode ser mais desumano do que uma máquina que grava no corpo do condenado a lei a que ele desobedeceu?
18 novembro 2022 0:50
Kafka foi o meu melhor amigo durante o curso, o que mais me ajudou a suportar o curso, porque escrevia sobre a lei e a justiça, sobre a lei injusta, sobre a justiça que não faz lei, e além disso tinha também estudado Direito, exercendo depois uma profissão jurídica. Já conhecia os diários e aforismos de Kafka, mas uma vez a universidade convidou para um encontro com os estudantes um jurista eminente, Laborinho Lúcio, que nos falou de “Perante a Lei”, um conto que me afectou como só na juventude ficamos afectados. Em “Perante a Lei”, há um homem que está à espera de uma audiência com a lei, mas o porteiro nunca o deixa entrar, passam-se anos sem que consiga ser recebido, o porteiro diz sempre que não chegou a altura; quando o homem está a morrer, pergunta por que razão ninguém apareceu diante daquela porta, quando sabemos que todos procuram a lei, e o porteiro responde: “Esta porta era só para ti, e agora vou fechá-la.” Foi um choque: através da lei e da justiça, Kafka fazia a pergunta acerca do sentido, e a mim ainda nunca me tinha ocorrido que não houvesse sentido algum.
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