O Portugal de Ana Moura é uma escolha e é feito de escolhas, certas ou erradas. Misturar fado com quizombas faz sentido para mim, é um eco do Portugal mulato onde cresci, é uma aceleração métrica do “portuguese blues”; pode não fazer sentido para outras pessoas, mas é uma escolha estética legítima. Já o Portugal de Amália não era uma escolha, era uma imposição que sufocava a própria Amália
O fado e o cante têm uma sonoridade bela, sem dúvida, mas também pode ser repetitiva, chata, pouco desafiante. Torna-se uma coisa fácil, uma receita instantânea. É por isso que o Zambujo, por exemplo, é muito bom: é heterodoxo, mistura fado e cante com outros andamentos e geografias, vai ao Brasil, vai a Espanha. E sabem outra coisa? Amália, a grande Amália, queixava-se imenso dos puristas do fado que faziam birra quando ela saía um milímetro do cânone. E nem estou a falar das polémicas lançadas contra o fado quando ela decidiu cantar grandes poetas. Não imaginam a polémica que isso foi: os puristas do ‘meio’ literário consideraram que era um desrespeito pela poesia. O que seria de nós sem o 'meio' literário e artístico português, sempre tão aberto, não é?
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