Opinião

A diabetes hoje - fazer diferente?

A diabetes hoje - fazer diferente?

João Raposo

Presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia

O número de pessoas com diabetes está a aumentar, mas nunca as terapêuticas e tecnologias foram tão boas. Neste Dia Mundial da Diabetes, importa planear, inovar e revolucionar

No mundo, o número de pessoas com diabetes está a aumentar e continua a haver demasiadas pessoas com complicações causadas por esta patologia. Ainda assim, nunca tivemos, como agora, acesso a tão boas terapêuticas farmacológicas ou ferramentas tecnológicas.

Há claramente necessidade de fazer diferente... planear, inovar e revolucionar. Precisamos de olhar para a diabetes com outros olhos, compreender as razões que nos têm impedido de passar de pequenos projetos pilotos de sucesso para estratégias mundiais.

Precisamos de novas estratégias integradas e coordenadas que, com modelos adequados de monitorização, permitam acompanhar os resultados da prevenção e do acompanhamento da diabetes.

Em Portugal, temos um Plano Nacional para a Diabetes, serviços e equipas motivadas e estruturas que articulam os diferentes níveis de cuidados - as Unidades Coordenadoras Funcionais. Em contrapartida, temos dificuldades em aceder aos números, analisá-los e adaptar estratégias – o papel do Observatório Nacional para a Diabetes, da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, é aqui fundamental.

No que diz respeito ao acesso a novas tecnologias, existe ainda um atraso em relação a outros países. Falhamos nos circuitos de aprovação e distribuição e na capacidade de colocar essa tecnologia ao serviço das pessoas com diabetes, tornando o sistema português pouco apelativo para as empresas.

Com isto em mente, a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), juntamente com profissionais de saúde e a comunidade de pais de crianças e jovens com diabetes tipo 1 (DT1), e com o apoio das sociedades científicas, lança a campanha nacional pelo acesso aos dispositivos automáticos de insulina. A falta de recursos humanos e financeiros representa uma barreira ao uso generalizado desta terapêutica, mesmo que haja uma abertura total para a colocação destes novos sistemas, que em muito melhorarão a vida das pessoas com DT1.

Na área da diabetes tipo 2, é necessário implementar diferentes níveis de abordagem para a sua prevenção, incluindo o tratamento da obesidade, um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da diabetes tipo 2. É urgente discutir a estrutura dos cuidados e os modelos de financiamento. Continuamos a encaixar as pessoas num sistema que foi desenhado para outras necessidades.

Somos capazes de fazer diferente?

Na Europa, 10 anos após a primeira Proposta de Resolução do Parlamento Europeu sobre a diabetes, discute-se uma nova Resolução, que será votada no próximo dia 21 de novembro. Esta resolução, promovida pelos parlamentares europeus, com o apoio da Federação Internacional da Diabetes, European Diabetes Forum, APDP e Sociedade Portuguesa de Diabetologia, entre outras organizações, procura garantir que os sistemas de saúde europeus sejam redesenhados, de forma a abordarem as especificidades de cada tipo de diabetes.

É preciso criar um plano de atuação ambicioso liderado pela União Europeia, com metas e responsabilidades claras e coordenadas.

No mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) continua no processo de discussão do Global Diabetes Compact, uma visão global sobre o que ainda falta fazer face às desigualdades existentes na prestação de cuidados de saúde às pessoas com diabetes em todo o mundo.

Nos últimos dois anos, a OMS tem trabalhado com vários parceiros, prestadores de cuidados de saúde, decisores políticos e a indústria tecnológica e farmacêutica para, em conjunto, discutirem processos, metas e indicadores que possam ser adaptados e adequados aos contextos nacionais. Estes indicadores serão traduzidos na resposta das unidades de saúde, nos preços das tecnologias, dos fármacos e dos serviços de saúde; e nas competências dos profissionais de saúde, nomeadamente, em relação à educação terapêutica e à capacitação das pessoas com diabetes para a autogestão da doença.

Podemos e queremos fazer diferente?

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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