Opinião

Saudades do inaceitável silêncio

11 novembro 2022 0:14

Já todos nos queixámos de querer fazer obras e os projectos se arrastarem na câmara. Só nunca tínhamos ouvido um autarca a fazê-lo

11 novembro 2022 0:14

Creio que se justifica começar com o clássico “no momento em que escrevo”, uma vez que no momento em que escrevo Miguel Alves ainda é secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro. No entanto, quando este texto for publicado é possível que continue a ser. Creio que só um mariscador muito experiente conseguirá descolar esta lapa do lugar a que se encontra agarrada. Até já pessoas do PS pedem a sua demissão e, até agora, nada. O que é bom, para que percebam o problema de viver num país em que uma pessoa não consegue que o Governo faça nada rapidamente. Primeiro, toda a gente considerou inaceitável o silêncio do secretário de Estado sobre as trapalhadas em que está envolvido. Depois, ele deu uma entrevista — e toda a gente considerou que o silêncio, afinal, não era assim tão mau. O caso é fácil de explicar: quando era presidente da Câmara de Caminha, Miguel Alves adiantou 300 mil euros a uma empresa meio esquisita para construir um pavilhão multiusos meio esquisito. A empresa meio esquisita é dirigida por uma pessoa cujo currículo é meio esquisito. O pavilhão multiusos ainda não começou a ser construído, até porque os proprietários dos terrenos destinados à construção não estão interessados em vender. O que é meio esquisito. Na entrevista que deu ao “JN” e à TSF, Miguel Alves defendeu-se disparando para todo o lado. Refiro-me a todo o lado do seu pé. Deu tiros em vários pontos do seu pé. O primeiro foi: o caso só aparece agora porque ele passou a ser secretário de Estado. É uma defesa clássica, a da oportunidade da acusação. Creio que todos concordamos que não funciona muito bem.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.