Opinião

A cultura e a ciência são os modos de sair da crise e em Lisboa sabemos isso

A cultura e a ciência são os modos de sair da crise e em Lisboa sabemos isso

Diogo Moura

Vereador da Câmara Municipal de Lisboa (CDS)

Lisboa vive Novos Tempos. Escolheram-nos os lisboetas, há um ano. E é tempo de balanço. Porque houve fortes razões para esta escolha, e porque há boas razões para esse balanço. Mas já lá vou

Permitam-me, antes, a liberdade de começar este balanço de um ano de mandato como vereador da Câmara Municipal de Lisboa com um apontamento muito pessoal: não queria estar noutro lugar, não queria estar a fazer outra coisa. Excesso de confidência? Não tanto, e explico: amo a minha cidade; e, fosse isso pouco, acrescento, amo a vida política.

Malgrado a fama da actividade, reforço e esclareço: servir a cidade que amo, ainda para mais com os pelouros que tenho sob a minha responsabilidade, representa toda a minha visão da política, uma parte fundamental da minha vida.

Porquê? Porque gerir a vida da cidade na Cultura, na Economia e Inovação, na Educação, na relação com as Freguesias e no Orçamento Participativo têm um denominador comum, que está na base das minhas mais fortes convicções políticas: a importância vital da abertura e respeito pelo outro. Não é só um ponto de partida. É um caminho. Um caminho de construção do futuro. À imagem de Lisboa.

Lisboa é uma das mais inspiradoras capitais europeias, mãe da globalização e a mais cosmopolita cidade do país. Daqui partiram e partem tantos, aqui chegaram e chegam muitos mais. É uma cidade aberta ao mundo, e não pode ser governada sem a abertura ao outro. E é convictos dos nossos méritos, seguros da nossa história, mas curiosos ante o novo e acolhedores dos que cá chegam, como fizeram os grandes que me precederam, que perspectivamos o futuro.

Dizia que havia fortes razões para a mudança que os lisboetas quiseram há um ano e boas razões para falar delas.

Na Cultura quiseram desqualificar “Um Teatro em Cada Bairro”, numa leitura exígua e literal que diz mais do leitor do que da nossa intenção: Lisboa vai mesmo descentralizar a oferta de espaços culturais pela cidade, integrando artistas e cidadãos através da criação e fruição cultural. Incentivaremos e daremos acesso a uma programação cultural de qualidade, e garantiremos que os mais novos e os mais experientes podem, independentemente das suas condições sociais, aceder à cultura. É por isso que estamos prestes a lançar o “Passe Cultural”, que permitirá o acesso gratuito a equipamentos municipais aos residentes em Lisboa menores de 23 anos e maiores de 65 anos de idade. Mas queremos mais: iremos inaugurar a Biblioteca Ambiental do Jardim da Estrela, a Biblioteca Lobo Antunes e uma nova Biblioteca no Alto do Lumiar, aumentando assim para 19 as bibliotecas integradas na rede municipal. Encontrámos já soluções técnicas e financeiras para a construção do novo Arquivo Municipal e para a Hemeroteca. Concretizaremos a construção do MUDE – Museu da Moda e do Design - e abriremos, finalmente, as portas do renovado Parque Mayer, sem perder a sua identidade.

Na Economia e Inovação, a nossa aposta passa por garantir que Lisboa é um ecossistema empreendedor. Não acredita em "unicórnios"? Espere até ver um: no Hub do Beato vamos assegurar que Lisboa passará de startup city para scaleup city. E sim, faremos de Lisboa uma capital tecnológica e uma cidade qualificada e competitiva.

O Hub Azul é outro dos marcos que pretendemos entregar a Lisboa. Uma aposta de futuro, orientada para a bioeconomia e biotecnologia azuis: um espaço de empreendedorismo, de inovação e de conhecimento que fará de Lisboa uma capital global da economia azul.

E se olhamos o futuro, fazemo-lo com o compromisso de não deixar ninguém para trás. Na exigente resposta pós-pandémica e anti-inflaccionista temos o Recuperar+, um programa de apoio às empresas, que quer chegar aos agentes económicos mais fortemente impactados, que tenham contraído empréstimos durante a pandemia, para os auxiliar a fazer face à falta de liquidez. Complementarmente, teremos programas estratégicos de promoção do comércio e do espaço público, que potenciem novas dinâmicas de bairro, fomentando processos de regeneração urbana e atraindo novas populações.

Na Educação temos a nosso cargo 139 escolas, e a responsabilidade de dar resposta às expectativas de alunos, pais, professores, auxiliares, educadores e toda a comunidade educativa. Neste primeiro ano demos prioridade à obra: reabilitámos equipamentos, retirámos amianto, promovemos a eficiência energética, melhorámos a oferta das refeições escolares e assegurámos soluções de transporte municipal para as crianças.

Os próximos 3 anos serão de reforço da aposta na qualificação do parque escolar, de combate ao insucesso escolar e ao abandono escolar precoce, e de combate ao défice de competências em leitura e escrita. Para este efeito vamos criar um programa de Literacia para o Futuro, envolvendo pais e encarregados de educação, aumentando a frequência das bibliotecas e de outros espaços culturais pelas famílias. Estamos, neste domínio, a rever a Carta Educativa, instrumento de planeamento essencial para o desenvolvimento da educação no município.

E, parafraseando o poeta, mais houve e lá chegámos: cumprimos o que outros prometeram. No último ano cumprimos 10 projectos aprovados pelo Programa Orçamento Participativo da Cidade de Lisboa, que aguardavam execução há já uma década. Iniciámos um trabalho de auscultação e discussão sobre modelos de gestão que permitam uma participação mais alargada e eficaz dos cidadãos através dos projectos apresentados a votação pública.

A relação com as 24 Juntas de Freguesia de Lisboa foi reforçada através dos contratos de delegações de competências, que continuaremos a aperfeiçoar, e que têm permitido assegurar os serviços públicos de proximidade, garantindo princípios de descentralização e qualidade.

Termino com a lição de um dos maiores, que orienta, com o seu testemunho, o nosso olhar sobre o trabalho que temos em mãos. Francisco Lucas Pires, então Ministro da Cultura, disse-nos que "A cultura e a ciência são os modos de sair da crise. Portugal é hoje um país que não pode viver do seu peso no mundo, tem que viver outra vez do seu engenho, do seu rigor, da sua capacidade inventiva, e isto passa pela cultura e pela ciência. Só a cultura, em Portugal, pode ser, em termos de balança exterior, superavitária. Em tudo o resto somos deficitários, mas em termos de cultura, seguramente, somos credores." Queremos dar corpo a esta visão, e foi por isso que os lisboetas escolheram Novos Tempos para a cidade.

Diogo Moura escreve de acordo com a antiga ortografia

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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