Ecossistema empreendedor e de inovação: é o momento para ir mais além
Na semana da Web Summit, uma avaliação sobre o empreendedorismo em Portugal e como investir para conquistar, cada vez mais, uma posição consolidada num mercado global
Fundador e diretor executivo da consultora Beta-i
Na semana da Web Summit, uma avaliação sobre o empreendedorismo em Portugal e como investir para conquistar, cada vez mais, uma posição consolidada num mercado global
Depois de mais de uma década a contribuir para a construção do ecossistema de inovação português, mudei-me para Boston (que voltou a ser este ano o 4º maior ecossistema de empreendedorismo do mundo), exatamente no momento em que Portugal ganhou uma reputação internacional incontornável.
Uma das vantagens de se viver fora é o facto de ganharmos uma perspetiva diferente sobre o nosso próprio país, tornando mais claro as suas vantagens, mas também apercebermo-nos de forma mais obvia, das suas idiossincrasias e da sua relativa irrelevância no mundo verdadeiramente global.
Apesar disso, Portugal conseguiu atrair na última década um enorme magnetismo internacional. Ao potencial turístico, conseguiu conciliar um forte posicionamento como país de tecnologia e de inovação, atraindo várias startups e centros de tecnologia internacional.
O Web Summit, que faz agora 7 anos, tem sido o reflexo deste paradigma, e tem sido uma excelente ferramenta de marketing territorial, de mostra tecnológica e atração de milhares de decisores internacionais, que se têm rendido ao nosso talento e à facilidade de fazer negócio, aliado a uma excelente qualidade de vida.
Portugal tem batido nos últimos anos todos os recordes de atração de investimento internacional, gerou uma das maiores taxas de unicórnios por habitante do mundo, e tem atraído muitos empreendedores e investidores internacionais e uma comunidade vibrante em setores tão emergentes como das cripto-moedas e a web.3.0.
Um dos indicadores mais óbvios de um ecossistema maduro, como o de Boston, tem a ver com a densidade. Tanto na lógica de descentralização e multipolaridade, como de massa crítica, foco e especialização, como também na dinâmica de interação entre indústria, academia e mercados financeiros. Portugal precisa neste novo ciclo de mais densidade, de mais foco na internacionalização e na especialização. Apesar do aumento recente das exportações, é preciso muito mais ambição e uma aposta clara nos mercados internacionais.
Apostar em áreas onde podemos ser diferenciadores a nível global, como a saúde, a indústria 4.0, a energia e mobilidade, ou mesmo sustentabilidade e mar. Especialização em sub-clusters específicos onde temos competências e capacidade de afirmação, com base numa estratégia colaborativa.
Temos de alavancar tanto os grandes grupos económicos como os nossos unicórnios, apostar em redes internacionais de colaboração de especialização inteligente, e impulsionar também a presença de centros de excelência internacional em Portugal, como está a acontecer no sector da mobilidade, financeira ou das energias alternativas.
Faz sentido por isso uma aposta em players mais especializados e atrair os melhores eventos mundiais nas áreas onde nos queremos afirmar. Fazer mais como a Holanda ou Singapura, que atraem eventos de excelência em setores estratégicos. Porque não ter o melhor evento do mundo na área da energia, da indústria 4.0, sustentabilidade, saúde ou mesmo do mar?
Dizem os melhores pilotos que é nas curvas que se acelera, e diz Warren Buffett, que é bom investir quando estão todos com medo e desinvestir quando estão todos em eforia. Estamos a entrar num momento complexo nos mercados globais, com uma descida generalizada das bolsas, dos montantes de investimento de capital de risco e até do imobiliário.
No entanto, Portugal tem à sua disposição um dos maiores volumes de fundos de capital de risco de crescimento de sempre, tem o maior ciclo de fundos estruturais da sua história, e tem uma atenção e investimento internacional sem precedentes.
Devíamos aproveitar o momento para ir mais além e apostar de forma séria nas áreas de maior potencial, com uma estratégia clara, sem ir atrás de tendências e das receitas fáceis, alavancando estrategicamente as redes que temos criado e atuando de forma verdadeiramente colaborativa. Não é tempo para provincialismos nem de nivelar por baixo.
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