Opinião

António Costa, o habilidoso

António Costa, o habilidoso

Mariana Leitão

Chefe de Gabinete e membro do Conselho Nacional da IL

Por mais voltas ao discurso que António Costa dê, as suas habilidades mostram que ele próprio está mais próximo de André Ventura do que qualquer outro líder partidário. Usam-se um ao outro para conquistarem eleitorado, cada um com o seu discurso arrogante, falacioso e demagógico

António Costa é, provavelmente, o político português mais habilidoso da nossa história. Conseguiu ser eleito secretário-geral do Partido Socialista em 2014, depois de contestar a liderança de António José Seguro por um resultado nas eleições europeias desse ano que, supostamente, sabia a "poucochinho", apesar de essa ter sido a segunda vitória que Seguro tinha tido enquanto líder socialista, já que o partido também tinha ganho as autárquicas de 2013.

Saiu da presidência da Câmara Municipal de Lisboa, deixando o seu protegido Fernando Medina a substituí-lo, para ser candidato a primeiro-ministro nas legislativas de 2015.

Apesar do ataque cerrado feito ao então primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, Costa não conseguiu ganhar as legislativas em 2015, mas, graças à sua característica habilidade, não teve hesitações ou reservas quanto ao modo de chegar ao cargo que tanto almejava. Mesmo que essa ambição pessoal tenha implicado fazer acordos com o Bloco de Esquerda e com a CDU, levando à aprovação de uma moção de rejeição do Governo da coligação PSD/CDS, que não tinha maioria parlamentar.

A habilidade manteve-se no discurso nos anos seguintes. Para garantir o seu lugar e a perpetuação no poder dos socialistas, Costa não olhou a meios, fazendo de Passos Coelho uma espécie de fantasma que a qualquer altura podia vir amaldiçoar-nos com a austeridade, enquanto ele, Costa, representava o herói que teria acabado com a dita austeridade, apesar de ter revertido poucas das medidas do tempo da troika e de continuar a asfixiar as famílias e as empresas com impostos.

Outra das habilidades de Costa foi na altura das autárquicas de 2021. Aproveitou o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a famosa bazuca, para fazer campanha pelo PS. Nessa altura, o discurso do primeiro-ministro foi tentar tornar o PRR uma bandeira partidária, atribuindo implementação e a boa execução da bazuca aos autarcas socialistas. E toda a campanha autárquica esteve sustentada nesta ideia errada de que existia uma estreita relação entre o PRR e o PS, não havendo propostas concretas para apresentar, apenas um vazio que se tentou preencher com este discurso demagógico.

O golpe que levou à obtenção da maioria absoluta foi, mais uma vez, uma habilidade. Passos Coelho já não estava em cena, o discurso da austeridade ia perdendo força e, em bom tempo para Costa, apareceu o Chega. E, claro, a possibilidade de utilizar o argumento do perigo da extrema-direita para ir buscar a tão desejada maioria absoluta.

André Ventura tem sido muito útil a Costa. Não há ninguém que fale tanto no Chega, que lhe faça tantas referências, comparações, metáforas como o líder socialista, apenas com o intuito de se arvorar em herói do combate à extrema-direita.

O ataque de Costa à Iniciativa Liberal, acusando-a de querer competir com o Chega no "lamaçal" é só mais uma evidência desta habilidade. Um discurso bacoco, sem qualquer sustentação ou adesão à realidade, que assenta somente nos objetivos do primeiro-ministro - fragmentar o centro e o centro-direita, permitindo assim que o PS se perpetue no poder.

E enquanto Costa tenta manter-nos entretidos com as suas habilidades, vamos ver em detalhe como correram os últimos sete anos de governação socialista:

Pródigos em casos que tiveram como protagonistas os vários ministros que, apesar da incompetência demonstrada e dos inúmeros escândalos, foram mantidos nos seus lugares, os casos de favorecimento envolvendo membros do Governo continuam a aparecer e nunca se vê alguém a assumir responsabilidades.

Sete anos de governação socialista que extinguiu as Parcerias Público-Privadas (PPP) na saúde e limitou a sua criação, mesmo havendo indicadores que mostravam a sua eficiência e benefício para os utentes, preferindo prejudicar os cidadãos para defender uma posição meramente ideológica.

Sete anos de governação socialista em que a dívida aumentou, a despesa cresceu, os impostos dispararam e a qualidade dos serviços públicos diminui drasticamente.

Sete anos de governação socialista a acenar com orçamentos de supostas contas certas, quando mais não são do que orçamentos de austeridade encapotada, com uma carga fiscal sem paralelo, sem qualquer alívio para as famílias e para as empresas, sem qualquer reforma estruturante que permita que o nosso país se torne mais próspero, mais moderno, mais justo e garanta oportunidades a todos.

E, por mais voltas ao discurso que António Costa dê, as suas habilidades mostram que ele próprio está mais próximo de André Ventura do que qualquer outro líder partidário. Usam-se um ao outro para conquistarem eleitorado, cada um com o seu discurso arrogante, falacioso e demagógico. Um e outro não têm nada para apresentar ao país. Os portugueses merecem mais. Muito mais.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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