António Costa é, provavelmente, o político português mais habilidoso da nossa história. Conseguiu ser eleito secretário-geral do Partido Socialista em 2014, depois de contestar a liderança de António José Seguro por um resultado nas eleições europeias desse ano que, supostamente, sabia a "poucochinho", apesar de essa ter sido a segunda vitória que Seguro tinha tido enquanto líder socialista, já que o partido também tinha ganho as autárquicas de 2013.
Saiu da presidência da Câmara Municipal de Lisboa, deixando o seu protegido Fernando Medina a substituí-lo, para ser candidato a primeiro-ministro nas legislativas de 2015.
Apesar do ataque cerrado feito ao então primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, Costa não conseguiu ganhar as legislativas em 2015, mas, graças à sua característica habilidade, não teve hesitações ou reservas quanto ao modo de chegar ao cargo que tanto almejava. Mesmo que essa ambição pessoal tenha implicado fazer acordos com o Bloco de Esquerda e com a CDU, levando à aprovação de uma moção de rejeição do Governo da coligação PSD/CDS, que não tinha maioria parlamentar.
A habilidade manteve-se no discurso nos anos seguintes. Para garantir o seu lugar e a perpetuação no poder dos socialistas, Costa não olhou a meios, fazendo de Passos Coelho uma espécie de fantasma que a qualquer altura podia vir amaldiçoar-nos com a austeridade, enquanto ele, Costa, representava o herói que teria acabado com a dita austeridade, apesar de ter revertido poucas das medidas do tempo da troika e de continuar a asfixiar as famílias e as empresas com impostos.
Outra das habilidades de Costa foi na altura das autárquicas de 2021. Aproveitou o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a famosa bazuca, para fazer campanha pelo PS. Nessa altura, o discurso do primeiro-ministro foi tentar tornar o PRR uma bandeira partidária, atribuindo implementação e a boa execução da bazuca aos autarcas socialistas. E toda a campanha autárquica esteve sustentada nesta ideia errada de que existia uma estreita relação entre o PRR e o PS, não havendo propostas concretas para apresentar, apenas um vazio que se tentou preencher com este discurso demagógico.
O golpe que levou à obtenção da maioria absoluta foi, mais uma vez, uma habilidade. Passos Coelho já não estava em cena, o discurso da austeridade ia perdendo força e, em bom tempo para Costa, apareceu o Chega. E, claro, a possibilidade de utilizar o argumento do perigo da extrema-direita para ir buscar a tão desejada maioria absoluta.
André Ventura tem sido muito útil a Costa. Não há ninguém que fale tanto no Chega, que lhe faça tantas referências, comparações, metáforas como o líder socialista, apenas com o intuito de se arvorar em herói do combate à extrema-direita.
O ataque de Costa à Iniciativa Liberal, acusando-a de querer competir com o Chega no "lamaçal" é só mais uma evidência desta habilidade. Um discurso bacoco, sem qualquer sustentação ou adesão à realidade, que assenta somente nos objetivos do primeiro-ministro - fragmentar o centro e o centro-direita, permitindo assim que o PS se perpetue no poder.
E enquanto Costa tenta manter-nos entretidos com as suas habilidades, vamos ver em detalhe como correram os últimos sete anos de governação socialista:
Pródigos em casos que tiveram como protagonistas os vários ministros que, apesar da incompetência demonstrada e dos inúmeros escândalos, foram mantidos nos seus lugares, os casos de favorecimento envolvendo membros do Governo continuam a aparecer e nunca se vê alguém a assumir responsabilidades.
Sete anos de governação socialista que extinguiu as Parcerias Público-Privadas (PPP) na saúde e limitou a sua criação, mesmo havendo indicadores que mostravam a sua eficiência e benefício para os utentes, preferindo prejudicar os cidadãos para defender uma posição meramente ideológica.
Sete anos de governação socialista em que a dívida aumentou, a despesa cresceu, os impostos dispararam e a qualidade dos serviços públicos diminui drasticamente.
Sete anos de governação socialista a acenar com orçamentos de supostas contas certas, quando mais não são do que orçamentos de austeridade encapotada, com uma carga fiscal sem paralelo, sem qualquer alívio para as famílias e para as empresas, sem qualquer reforma estruturante que permita que o nosso país se torne mais próspero, mais moderno, mais justo e garanta oportunidades a todos.
E, por mais voltas ao discurso que António Costa dê, as suas habilidades mostram que ele próprio está mais próximo de André Ventura do que qualquer outro líder partidário. Usam-se um ao outro para conquistarem eleitorado, cada um com o seu discurso arrogante, falacioso e demagógico. Um e outro não têm nada para apresentar ao país. Os portugueses merecem mais. Muito mais.
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