Opinião

O acordo das interligações de energia é bom para Portugal?

Maria da Graça Carvalho e Pedro Sampaio Nunes

28 outubro 2022 5:35

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O acordo entre Portugal, Espanha e França para reforçar as ligações de gás e eletricidade agitou a política nacional. Eis os argumentos essenciais

28 outubro 2022 5:35

SIM O acordo sobre o futuro gasoduto entre Barcelona e Marselha é uma boa notícia para Portugal. Significa resolver uma situação que se encontrava bloqueada com o acordo de 2014, encontrando-se uma alternativa a projetos parados por objeções ambientais, e significa um reforço das condições de segurança pela maior interligação das redes do mercado europeu. Não consigo perceber as declarações do meu amigo Paulo Rangel quando afirma que “na eletricidade ganhou França e o nuclear, perdeu Portugal e as renováveis, no gás ganhou Espanha e o porto de Barcelona, perdeu Portugal e o porto de Sines”. Estas afirmações não têm qualquer justificação técnica! O nuclear e as renováveis não saem a ganhar ou a perder, como o porto de Sines não é afetado pelo acordo. A capacidade instalada em eólica e solar hoje na Península Ibérica é de cerca de 57 GW e deverá crescer até 125 GW em 2030, a adicionar aos 23 GW de hídrica. A

O mesmo se passa com Sines. Não existem condições técnicas nem económicas para Sines poder servir de entrada de gás natural liquefeito (GNL), seja de que proveniência for, para servir outro mercado além do português e um pouco do espanhol. O diâmetro do gasoduto foi dimensionado para esse fim, e não tem capacidade para mais. Não faz nenhum sentido económico bombar GNL ao longo de dois mil quilómetros quando esse GNL pode ser descarregado diretamente num dos outros 17 terminais europeus já existentes, mais próximos dos pontos de consumo, além de outros cinco flutuantes em vias de instalação! Sines nunca iria competir com Barcelona ou outro qualquer terminal, com ou sem acordo. Quanto ao hidrogénio, é um conceito ainda por demonstrar técnica e economicamente, muito longe da viabilidade.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.