Opinião

República de bananas

República de bananas

Luís Correia

Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Wroclaw, Polónia

Por onde é que havemos de começar? Pela TAP? Pelas 400 crianças vítimas de abusos sexuais que parecem não atormentar Marcelo? Pelo Orçamento do Estado para 2023? Ou pelas buscas da PJ à GfK (empresa que mede audiências na televisão) por alegado favorecimento à SIC? Com tanta novela, é melhor irmos por episódios

Portugal tem sido, desde há alguns anos para cá, afetado por um crescimento alargado de bananas. Na teoria, podem não parecer muitas, mas na prática chega para governar e não é só o país em si, são empresas “estratégicas para Portugal”. As traquinices de Costa e Medina, juntamente com as fintas de Marcelo, são uma maravilha para deixar Portugal uma verdadeira República de bananas.

Por onde é que havemos de começar? Pela TAP? Pelas 400 crianças vítimas de abusos sexuais que parecem não atormentar Marcelo? Pelo Orçamento do Estado para 2023? Ou pelas buscas da PJ à GfK (empresa que mede audiências na televisão) por alegado favorecimento à SIC? Com tanta novela, é melhor irmos por episódios.

Então não é que a TAP encomendou uma frota de 79 BMW para as suas chefias para substituir os Peugeot? Sinceramente...mas quem é que ainda aceita andar de Peugeot hoje em dia tendo o cargo de administrador executivo ou diretor de topo de uma empresa? As pessoas também, que incompreensão. O que é que custa pagar impostos para o Estado depois injetar dinheiro na TAP que depois encomenda BMW para quem trabalha nesta empresa que é “estratégica para Portugal”? É só para melhorar a qualidade da empresa, para garantir conforto e segurança dos seus trabalhadores, não custa nada contribuir. Está bem que os BMW têm um valor de mercado que vai desde os 52 mil euros até aos 65 mil euros, mas é para se irem pagando, não vai tudo de uma vez, assim não custa tanto. É isso ou paga-se uma indemnização de meio milhão à empresa com a qual a TAP assinou o contrato de “renting”? Se os carros não chegarem no início de 2023, chegam no início de 2024, qual é o problema? Eles vão chegar na mesma, se não for agora, é depois. O dinheiro vai continuar a sair do bolso dos mesmos.

E também já chega de bater sempre na mesma tecla, não é? Agora o problema é porque a TAP contratou Isabel Nicolau Silva, uma amiga de Christine Ourmières-Widener, presidente da TAP, para diretora de melhoria contínua e sustentabilidade da companhia aérea portuguesa. As pessoas gostam de ser mesquinhas. Qual é o mal de contratar amigos? Já se fala em escândalo, anda tudo a cuspir fogo, a lançar críticas atrás de críticas...há coisas incompreensíveis. Isabel Nicolau Silva, uma pessoa formada em engenharia civil, diretora da clínica de bem-estar do marido, agora não é capaz de tomar conta da TAP? E mais...15 mil euros por mês de salário? Só? Parece-me inadmissível. Uma pessoa com um currículo tão forte, com tantas competências, aceita condições destas e ainda há quem ouse criticar? Sinceramente, não percebo o alarido em volta deste assunto.

Por falar em alaridos, Marcelo Rebelo de Sousa, o homem das selfies e dos beijinhos, afirmou que “haver 400 casos de abusos sexuais na igreja não me parece particularmente elevado”. Um católico fiel e defensor da Igreja, até telefonou ao amigo e Bispo José Ornelas, que está a ser acusado de encobrimento de casos de abusos sexuais durante décadas, para o informar que este iria ser investigado. Mais um exemplo de que, tal como aconteceu com a TAP, para isto é que servem os amigos.

Para muitos, uma criança vítima de abusos sexuais pode parecer muito, pode parecer errado, pode parecer um número alarmante. Agora 400, para o Presidente da República...isso quando comparado com outros países, são “Peanuts”. Portugal está na cauda dos abusos sexuais, bem cá em baixo, um orgulho senhor Marcelo. Tomara que outros países tivessem números tão baixos de abusos sexuais como tem Portugal, principalmente na Igreja.

Não tivessem ambos, Marcelo Rebelo de Sousa e Bispo José Ornelas, metido os pés pelas mãos, e tudo tinha corrido bem. Safavam-se com o encobrimento do encobrimento. Azar o deles que se soube, não é?

Azar parece também ter tido António Costa e Fernando Medina, que ao apresentarem o Orçamento do Estado para 2023, foram logo “chacinados”, não só pela oposição, mas também pelos portugueses. Ao que parece:

  • não haverá crise nem recessão
  • o défice cairá de 1,9% em 2022 para 0,9% em 2023
  • a dívida desce para 110,8%
  • o Produto interno Bruto (PIB) vai crescer
  • a inflação vai ser baixinha, caindo de 7,4% em 2022 para 4% em 2023
  • as empresas vão ter benefícios fiscais ao aumentarem salários
  • o salário mínimo vai aumentar para 760 euros mensais
  • os salários da função pública terão aumentos médios de 3,9%
  • aumento do subsídio de refeição
  • o Estado vai apoiar os portugueses para combater a subida da inflação
  • limite no aumento das rendas
  • congelamento dos preços nos transportes públicos

Bem, que maravilha. Este sim, é o meu país. O mundo abalado pela pandemia, pela guerra, crises económicas em todo o lado, recessão na Europa e no Mundo, mas em Portugal, segundo Costa, não entra nada. O Costa, pelos vistos, até já está a dar “7 a 0 ao FMI”. Um primeiro-ministro a vender um “American Dream” à portuguesa.

Um sonho parece estar também a viver a SIC. Ao que parece, a GfK, empresa que mede audiências televisivas em Portugal, estará a ser alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária (PJ), por alegado favorecimento à SIC. Em causa estão suspeitas de adulteração de resultados que terão tido um impacto bastante significativo no mercado publicitário.

Ninguém diria que a SIC precisaria de benefícios destes, já que com programas como “Fama Show” e “Quem Quer Namorar Com o Agricultor”, não devia ser preciso. Se bem que competir com o “Big Brother” da amiga Cristina Ferreira não é tarefa fácil.

A ser verdade, foi uma jogada arrojada que, aparentemente é considerado crime de corrupção, vá-se lá saber bem porquê. A SIC só meteu a bola de um lado e foi buscar do outro. Fintas à Marcelo...

Surpreendentemente, todos os canais de televisão e todos os meios de comunicação social, online ou não, noticiaram esta maravilha...à exceção da SIC, que preferiu fazer jus à imparcialidade.

Jus parece também ter feito o país, já que bananas não faltam.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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