Opinião

Não são rosas, senhor, são trapaças

14 outubro 2022 4:35

O Governo nunca resiste ao superlativo: o primeiro-ministro concede modestamente que nem dirá que o aumento das pensões seja o maior “desde que os sumérios inventaram a escrita”

14 outubro 2022 4:35

Diz-se que o primeiro-ministro recebeu uma salva de palmas quando garantiu aos deputados da maioria absoluta que o aumento das pensões será acima da inflação. É um sinal curioso de devoção partidária, pois todos os ‘aplaudidores’ sabem que se trata de uma mentira. Mesmo descontando a separação em dois pagamentos (e o meio mês de pensão em outubro deveria contar como uma compensação pelas perdas pela inflação em 2022) e a não aplicação da lei em 2023, o próprio Governo afirma que pagará 8% às pensões mais baixas e menos do que a inflação aos outros pensionistas, depois deste ano em que todos perderam. Acresce ainda, para tornar a trama mais misteriosa, que a ministra veio mesmo dizer que, se se cumprisse a lei que prevê os tais 8% (na verdade, a lei imporia um aumento maior), então a sustentabilidade da Segurança Social seria tão afetada que se perderiam 13 anos no futuro do sistema — também nisso foi aplaudida pelos deputados da maioria, e o chefe repetiu o argumento. Esta conta é feita segundo as normas europeias, explicou beatificamente Costa no Parlamento. Um mês depois, o Orçamento apresenta contas, pela certa ainda segundo as mesmas normas, que desmentem as anteriores e permitem concluir que, pagando-se o valor legal, o saldo seria de mais de 2 mil milhões, que as receitas da Segurança Social continuam a crescer e que garantem mais 40 anos do sistema, mesmo sem novas formas de financiamento.