Opinião

Santarém - que o novo aeroporto não nos distraia dos problemas de sempre

Santarém - que o novo aeroporto não nos distraia dos problemas de sempre

Duarte Marques

Ex-deputado do PSD

Com o debate sobre o novo aeroporto em Santarém poucos deram conta que o Governo desviou de Rio Maior para Leiria a Estação Oeste do novo comboio de Alta Velocidade. O risco de apostar tudo neste projeto ambicioso não nos pode distrair das restantes prioridades em matéria de infraestruturas da região. Colocar os ovos todos no mesmo cesto tem os seus riscos e costuma dar asneira.

A nova discussão sobre a localização do novo aeroporto foi provocada por dois fatores, o atraso na construção do aeroporto complementar do Montijo e o surgimento de uma nova proposta de investidores privados para construir o novo aeroporto na região de Santarém.

Seja qual for a conclusão da discussão técnica que se seguirá ao longo do próximo ano só desejo que as conclusões técnicas, aeroportuárias, ambientais e económicas decidam que Santarém é a melhor opção para o país. Desconheço se os estudos para a solução Alcochete estão feitos ou não (num país normal esse Plano alternativo ao Montijo e solução definitiva para a grande infraestrutura aeroportuária estaria algo avançada em caso de necessidade de falhar a opção Montijo) mas caso estivessem dar-lhe-iam uma grande vantagem do ponto de vista temporal e de rapidez de execução.

Mas no que diz respeito ao distrito de Santarém há um alerta que convém, ou que me compete fazer. Se há três infraestruturas que estão consensualmente e lamentavelmente atrasadas – a) conclusão do IC3 e criação de uma alternativa ao EcoParque do Relvão na Chamusca / b) variante a Santarém - Entroncamento da Linha ferroviária do Norte / 3) Nó da A1 com IC9 em Fátima, todas elas constam das diversas versões dos Planos Nacionais de Investimentos aprovados desde 2008, na em Resoluções da Assembleia da República mas nunca concretizados, o que mais me espanta é discreto desvio da Estação de Rio Maior do novo projeto da Alta Velocidade sem que ninguém de direito se indigne e revolte. A nova versão da Alta Velocidade deslocou essa opção para Leiria.

A versão inicial da Alta Velocidade apresentada por José Sócrates em 2008 previa uma paragem do “TGV” Porto – Lisboa no distrito de Santarém e em particular em Rio Maior, a estação do Oeste que iria servir os distritos de Leiria e Santarém como lembra o Correio da Manhã de 8 de março de 2008 Rio Maior acolhe estação de TGV.

Na nova versão do PNI2030 apresentada a 22 de Outubro de 2020 no LNEC a solução do “TGV” português ainda mantinha uma Estação Alta Velocidade perto de Rio Maior, a tal estação do Oeste. Esta era a localização adequada a um aeroporto definitivo em Alcochete a construir também parte na zona sul no distrito de Santarém em Benavente. Aliás, o importante Relatório do Tribunal de Contas de 4 de dezembro de 2014 sobre a Alta Velocidade anunciava que a Declaração de Impacto Ambiental para o troço do TGV entre “Alenquer e Pombal – 10km” teria tido lugar em dezembro 2007. Nesse mesmo relatório faz-se referência a uma Resolução do Conselho de Ministros de janeiro de 2008 que aprovava a “localização do aeroporto em Alcochete” obrigando a Alta Velocidade a fazer uma Estação no distrito de Santarém.

Escrevo este texto em jeito de alerta pois no meio de toda esta discussão não podemos esquecer a importância de ter uma Estação da Alta Velocidade no distrito de Santarém nem deixar para segundo plano a questão do IC3 por causa dos milhares de camiões que diariamente transportam resíduos perigosos de todo o país para o Eco Parque da Chamusca, nem os problemas da Linha do Norte em Santarém cuja degradação pode pôr em causa todo o tráfego ferroviário entre Lisboa e o Porto, nem mesmo a utilização civil de Tancos tanto para mercadorias como para, o que me parece mais verosímil, alojar o dispositivo permanente de meios aéreos nacionais de combate aos incêndios.

O pior que nos podia acontecer, era na ânsia de colocar o aeroporto em Santarém nos distraiam de todos estes problemas em que o distrito e a região parecem ser sempre esquecidos pelo poder central. Corremos o risco de ficar sem aeroporto e sem todos estes problemas resolvidos. Fica alerta para as consciências com responsabilidade política

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