Opinião

Não, ela não é do Chega

30 setembro 2022 0:00

Augusto Santos Silva, sempre tão ágil a malhar na direita radical, vê na deputada do PS uma indigente ou vislumbra tiques censórios e antidemocráticos?

30 setembro 2022 0:00

O ritmo da asneira tem sido estonteante, mas a evolução na continuidade está imparável. Não estou a pensar nos ministros que se desautorizam em público, nem no chefe do Governo que continua a acreditar no Pai Natal antes que o povo acredite no Diabo, nem na ministra Ana Abrunhosa que há anos trata por tu o acesso aos fundos comunitários e cujo marido acedeu a centenas de milhares de euros de Bruxelas. Claro que saber se um marido, um filho ou um irmão de um ministro perde direitos legais só por o ser não é tão científico quanto fazer uma conta de dois e dois são quatro. Mas quando uma deputada do PS acha inoportuno maçar a ministra com perguntas e tenta apagar qualquer registo ao caso Abrunhosa das atas do Parlamento porque não é suposto discutirem “o café ou o chá que podemos ter tomado ontem à tarde”, não há volta a dar. O debate sobre a linha ultrafina que cose e (descose) governantes, familiares, leis e ética, está vivo e exige um zoom, mas a indigência que habita o Parlamento compete no ranking das nossas nódoas negras.