30 setembro 2022 0:05
Por causa dos nossos mortos, vivemos com a certeza acrescida da mortalidade, mas ganhámos a capacidade de nos esquecermos dela inconcebíveis dias inteiros
30 setembro 2022 0:05
Tudo o que há a dizer sobre a morte, ou antes, sobre a morte enquanto facto, é que é “natural, inegável e inevitável”. Lembrar isto será óbvio, escusado? Segundo Freud, bem pelo contrário. Numa conferência de 1915, o bom doutor escreveu mesmo que ninguém acredita na sua própria morte e que ninguém aceita a morte dos outros. A primeira é longínqua, inimaginável, e a segunda, quando acontece, faz com que rejeitemos, no imediato, qualquer hipotética “substituição” daqueles que perdemos, sobretudo pais, filhos, irmãos, cônjuges ou amigos próximos. Portamo-nos como se não houvesse morte, silenciando-a enquanto não acontece, ou tratando-a como inacreditável, inaudita, quando se manifesta. E tudo se agrava quando já não é uma morte, mas mortes consecutivas: “Uma acumulação de mortes aparece-nos como uma coisa sumamente assustadora.”
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.