As Causas. O novo PREC: processo de radicalização em curso
André Ventura é um caudilho e comporta-se como tal. O Chega não é nada sem ele e como revelou no domingo Ricardo Araújo Pereira é melhor para o seu futuro não mostrar mais ninguém
Comentador
André Ventura é um caudilho e comporta-se como tal. O Chega não é nada sem ele e como revelou no domingo Ricardo Araújo Pereira é melhor para o seu futuro não mostrar mais ninguém
Vivemos em semanas que revelam o crescimento e a chegada ao Poder de mais partidos de direita radical na Europa.
Um otimista dirá que isso significa que se tornaram menos radicais e mais oportunistas, ou seja, menos perigosos.
Um pessimista dirá que são os eleitores que cada vez são mais radicais e por isso mais perigosos.
Seja como for, e disso falaremos também, não faltam infelizmente em Portugal ajudas à radicalização.
O resultado das eleições legislativas na Suécia, o que se prevê vir a acontecer na Itália dentro de dias, de alguma forma o que ocorreu em França, tudo é matéria de reflexão necessária.
Digo reflexão, não digo simplificação, demonização, populismo reverso: a subida eleitoral de partidos radicais de Direita não é fácil de compreender, não se esclarece com acusações estereotipadas e não pode ser tratada de modo também populista com respostas simples para problemas complexos.
Esse crescimento não se faz apenas pela radicalização de moderados, mas também pela transferência de apoio de radicais que durante décadas votavam em partidos radicais de esquerda. Isso devia bastar para obrigar a pensar.
Essencial para o crescimento dos radicais de Direita foi sempre a tentativa deles – ainda que em regra de modo simplista nas respostas e demagógica na forma e conteúdo – de enfrentar problemas que preocupam setores mais marginalizados socialmente e classes médias em perda de estatuto social.
Por isso penso que os partidos radicais de Direita vieram para ficar. Exemplos disso:
Estes partidos são e continuam a ser partidos radicais, mas quando têm sucesso e para o ter, o crescimento faz-se com o afastamento das franjas mais extremistas, com alguma moderação do discurso e com a ampliação dos temas que os definem no combate político.
Como é evidente, uma alteração tão profunda do ambiente político-partidário é difícil de enfrentar.
Foi aliás sempre assim: Por exemplo,
As formas de reação dos partidos concorrentes e incumbentes, já instalados no mercado, são sempre idênticas e em regras sucessivas:
A História demonstra que este sistema funciona: os radicais instalam-se no sistema ou desaparecem depois de sugados da sua vitalidade inicial.
Por isso sobreviveram os Trabalhistas e os Verdes, mas desapareceram os Comunistas, para dar apenas alguns exemplos.
Olhando para os exemplos históricos em Portugal:
E o Chega? Em minha opinião está para ficar. Se evoluir para maior moderação tem condições para crescer até 15% a 20%, e provavelmente sem ele não haverá alternativa ao PS em 2026, mas por várias razões não poderá aspirar aos sucessos equivalentes dos seus confrades italianos, franceses ou suecos.
Vejamos então isso.
Em Portugal não temos a realidade sociológica de França, Itália e Suécia, que se carateriza pela existência de ingerível imigração não qualificada, em grande medida islâmica e por índices elevados de violência urbana contra pessoas e bens.
Por isso, em Portugal será mera caricatura copiar a estratégia seguida nesses países, baseada em temas que não sentimos psicossociologicamente.
Mas Portugal tem em elevado grau o ambiente sociológico de ressentimento que resulta da globalização, do turismo, da alta fiscalidade, da sensação de não pertença, do desaparecimento de classes médias confiantes no futuro.
Foi isso que levou Trump à Casa Branca e o Brexit ao Reino Unido.
André Ventura é um caudilho e comporta-se como tal. O Chega não é nada sem ele e como revelou no domingo Ricardo Araújo Pereira é melhor para o seu futuro não mostrar mais ninguém.
Ventura pode fazer do partido o que quiser, mais até do que Napoleão dizia das baionetas, pois neste caso até se pode sentar em cima. Dele e só dele depende a evolução estratégica do Chega.
E vejo três caminhos distintos para os próximos anos:
Os sinais que existem apontam para a prevalência da estratégia de nicho, a mais defensiva, mas também a mais limitada. Nesse caso acabará por seguir o destino do PCP e BE, sempre abaixo de 5 a 7% apenas.
Essa estratégia exige o “cordão sanitário”, pois se alimenta dele, mas reforça as razões compreensíveis para que exista.
Os partidos de Direita preferem, evidentemente, que o Chega não entre no mercado da concorrência política, esperando que o seu radicalismo deslocado o transforme num fogo fátuo.
Por isso, continuarão a tratá-lo assim enquanto possam, como aconteceu em Itália, França e Suécia, por mais sinais de moderação que venham a ocorrer se Ventura um dia vier a mudar a estratégia.
Tal como estão as coisas, não vejo que faça qualquer sentido acabar com o cordão sanitário e, por isso, junta-se a forma com a vontade comer.
Mas vamos ver como tudo isto evolui.
Dois temas aparentemente distintos merecem ser abordados pelo que significam e indiciam e de algum modo se inserem no tema geral de hoje.
O primeiro é a sentença judicial no caso dos incêndios de 2017, que absolveu a totalidade dos arguidos que o MP selecionara e que o JIC – provavelmente em modo de piloto automático – pronunciara.
A sentença revela que entre os arguidos não estava nenhuma pessoa ou entidade que tivesse a responsabilidade do lado do Estado Central de proteger o Pinhal de Leiria, esmagadoramente de sua propriedade. Mais, confirmei que nem sequer foram alvo de inquérito, pois ele se centrou em autarcas, bombeiros locais e entidades privadas.
Tenho denunciado este padrão de Estado irresponsável em relação a coimas sobre não limpeza de matas e de faixas adjacentes a estradas.
Esse tipo de atuação, é fogo na seara para partidos como o Chega, pois provoca uma compreensível revolta e a tese que o Estado é impune.
O outro tema resulta de um texto do Público de ontem, sobre pensões, que revela o relatório oficial que explica a razão pela qual António Costa mudou de opinião e resolveu aproveitar a inflação para reduzir em mil milhões as pensões para os anos de 2024 e seguintes.
Segundo o texto (elaborado pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho e da Segurança Social), sem o corte nas pensões:
Mas mesmo que haja o corte de pensões proposto por Costa:
Contra isto, sempre se poderá dizer – como o fez o radical populista Francisco Louçã – que a Direita anda delirante a querer a redução de pensões ou como disse um deputado do BE que o estudo é “uma profunda aldrabice”.
Mas o que isto revela é que António Costa não quer passar à História como um adepto da tese de Luis XIV (“a seguir a mim que venha o dilúvio”).
Se assim for, há que ter esperança que este gravíssimo problema seja enfrentado durante a maioria absoluta.
Se não, os que agora têm menos de 45 anos e que andam a descontar para pagar as pensões dos atuais reformados só vão receber metade do que se paga aos que se reformem agora e bem podem revoltar-se e creio que alguém irá apostar nisso.
Em todo o caso, louve-se o facto de o debate estar aberto e, por muito que desagrade a Costa e ao seu Governo, não vai fechar tão cedo.
É ao Presidente turco, Erdogan. Pode ser criticado por muita coisa, mas parece ser a única pessoa capaz de conseguir o fim da guerra na Ucrânia, e segundo ele com a paz “os territórios que foram invadidos serão devolvidos à Ucrânia”, assumo que ficando a Crimeia definitivamente russa, o que viabiliza o acordo.
Há razões para ceticismo, por certo, mas não para recusar o elogio à estratégia de Erdogan.
Costuma-se dizer que tudo tem a ver com tudo. Parece uma banalidade ou uma tonteira. Mas não é.
Leiam o artigo do Professor Fernando Alexandre, no Observador de ontem, com o título provocatório “Melhores salários e fins de semana prolongados” sobre as três promessas do programa eleitoral do PS com que ganhou a maioria absoluta:
Tudo promessas inviáveis, mas que explicam bem como até setembro António Costa estava a viver num mundo irreal.
Leiam que vale muito a pena.
Segundo revelou o Economist, Gennady Zyuganov (líder do Partido Comunista da Federação Russa – o 2º maior partido da Duma, o Parlamento) disse há dias que “There is a war going on, and we have no right to lose it. We need a complete mobilisation of the country”. E anterior o PC Russo defendera o reconhecimento de Lugansk e Donetsk como Estados independentes.
Embora este ano não tenha vindo à Festa do Avante (seria demais…), este partido russo comunga com o PCP a ideologia marxista-leninista, a nostalgia da União Soviética e o ódio a Gorbachev. O PCP há dias votou contra um voto de pesar pela morte de Gorbachev (o Bloco de Esquerda não conseguiu votar a favor e absteve-se).
A pergunta é para o PCP: será por isto que o PCP se recusa a condenar a invasão russa e os crimes nela perpetrados?
Um dos sinais de que o fim de uma época se aproxima é o aumento do caos.
Foi do que me lembrei quando li que o Ministro da Economia quer reduzir “transversalmente” o IRC em 2023, ou seja para todas as empresas, contra o que defende o Ministro das Finanças.
Há uns meses seria mandado calar pelo Primeiro-Ministro. Agora só um ex-ministro da Economia o criticou.
Vamos ver muito mais disto, estou convencido.
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