Opinião

Palavras, provérbios, números

9 setembro 2022 0:51

História Fragmentada do Mundo

9 setembro 2022 0:51

“Deus é grande e o mato é maior.”
Expressão popular que ouvi no outro dia.
Há nesta forma de medir grandezas um desacerto alucinado que agrada.
Poderemos pensar em variantes: Deus é grande, mas a Amazónia é maior.
Deus é grande, mas cabe em duas mãos pequenas.
O que é um crente? Alguém que nunca pensa na hipótese da existência de um ‘mas’ depois da expressão “Deus é grande”.
O que é um descrente ou um céptico? Um senhor lúcido, mas desesperado; desesperado mas lúcido. Alguém que vive tendo por centro, como uma fogueira, o “mas”. Nada é definitivo, nada o convence. O “mas” como o solo normal dos seus dias.
Amo, mas. Estou contente, mas. Foi bom, mas.
O Nosso Senhor do Mas é o nosso senhor da insatisfação geral dos humanos.
Duas hipóteses, portanto. Os humanos que vivem com um ‘mas’ no centro dos seus dias. E os humanos que vivem sem ‘mas’.
Dois tipos bem distintos de distintos animais.
Imaginar um humano — será que ele existe? Onde? — imaginar um humano que nem uma vez tenha murmurado um “mas”.
Vou para a vida sem ‘mas’ algum; como um maluco, alguém diria.
Alguém que faz a bagagem enchendo-a de ‘mas’; e outro alguém que faz a bagagem e deixa o “mas” de fora.
Não o levas? Não levas nem um?
Já não cabe — responde o entusiasta.

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