Opinião

O azul deveras

9 setembro 2022 0:06

Não deixa de impressionar como a tudo, desde a sintaxe à observação meteorológica, Pessoa aplique o mesmo empenho

9 setembro 2022 0:06

Acabou por ser um verão pessoano. Primeiro, ajudado pela leitura da monumental biografia que Richard Zenith construiu com o saber de uma vida inteira dedicada ao conhecimento de Fernando Pessoa (e aprende-se tanto com esta obra formidável!). E, ultimamente, pelo regresso, boquiaberto e comovido, ao “Livro do Desassossego” (ainda na edição que Zenith organizou). É bom constatar que Pessoa é espantoso. De facto, as décadas que nos separam da sua morte têm mostrado o quanto devemos a este cartógrafo e mestre da vida interior. E ainda aqui vamos, pois a sensação que se tem ao ler a biografia é que, apesar da escolarização do estudo da sua obra e do sucesso editorial que justamente lhe está associado, Fernando Pessoa permanece um continente desconhecido.

Num dos textos do “Livro do Desassossego”, o poeta fala da possibilidade futura de “uma geografia da consciência de nós próprios” e essa foi, se quisermos, a sua verdadeira ocupação. Ele alargou, desse modo, a nossa compreensão do humano. Pessoa praticou a literatura à maneira de uma sonda ou de um instrumento de precisão que lhe serviu para investigar os territórios mais longínquos, silenciosos e inclassificáveis de si mesmo.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.