2 setembro 2022 0:03
Um temido Brigadeiro General da UNITA desafiou as convenções: largou a AK-47 e dedicou-se às rosas
2 setembro 2022 0:03
A guerra não passa por todos os homens da mesma maneira, embora os filmes americanos atuais nos queiram convencer de que inevitavelmente se regressará “avariado” e a necessitar de apoio. Um amigo de Luanda, na brincadeira, dizia-me que em Angola ninguém tinha tempo ou dinheiro para TSPT (Transtorno de Stresse Pós-Traumático) da guerra. Acabava a guerra e ficava tudo feliz. Ainda hoje em Portugal questiono-me sobre a brutalidade que foi abandonar à sua sorte milhares e milhares de homens que estavam a combater em África, em cenários brutais como Angola, mas acima de tudo Guiné. Um dia disseram-lhes que tinha acabado, foram trazidos para um país em festa e ninguém lhes perguntou nada e ninguém queria nada com eles e ninguém lhes perguntou se precisavam de ajuda. Até havia um gozo às tatuagens toscas “Guiné Amor de Mãe 73” — quando estas representações na pele seriam um grito de desespero de miúdos na maior das aflições. A Guiné foi o Vietname vezes dez. E os homens voltaram estragados, e muitos deles começaram aí um ciclo de álcool e violência doméstica. Em Angola e Moçambique, as guerras recomeçaram. Na Guiné deu-se início a um ciclo de purgas e golpes. Cá também não havia TSPT coisa nenhuma. Lembro-me de um tipo na minha rua, no Alentejo, de longas barbas e cabelos sujos, aspeto andrajoso, a deambular pela rua, a gritar contra o Spínola e a destruir regulamente a casa da mãe. “Foi a guerra.” E encolhia-se os ombros.
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