O ataque de Bolsonaro à democracia civilista assenta pois em três pilares: apelo mais ou menos discreto à intervenção dos militares na vida política; apoio à interferência das igrejas evangélicas no processo de decisão politica; enfase nas suspeitas sobre a regularidade do processo eleitoral. A estes, junte-se uma prática populista que extrema o debate político
Há duzentos anos, o Brasil nasceu como império liberal constitucional alicerçado nos princípios da separação de poderes, liberdade de expressão e tolerância religiosa. Estes foram consagrados pela Constituição de 1824 e pela prática política posterior. O liberalismo politico e o civilismo têm pois uma longa tradição no Brasil. Esta foi reforçada no chamado “segundo reinado” (1840-1889), que corresponde ao reinado de D. Pedro II, e foi uma realidade incontestada até 1870, data da guerra do Paraguai, altura em que os militares passaram a ter um maior protagonismo político. O exército esteve no centro do golpe militar que, em 1889, instaurou a república brasileira.
Ao contrário do que se possa pensar, o império brasileiro não caiu então pelo seu conservadorismo, mas precisamente pelo contrário: a República surgiu em parte como reação dos “coronéis” à libertação dos escravos. Desde então, acentuou-se também a influência do “coronelismo” na politica, fenómeno agora tristemente personificado por Jair Bolsonaro.
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