26 agosto 2022 0:09
Os jovens urbanos, sofisticados e ‘verdes’ têm uma visão parecida com o obscurantismo dos meus antepassados analfabetos, isto é, sacralizam em excesso a natureza e demonizam qualquer ato humano sobre a natureza
26 agosto 2022 0:09
Era um dos mistérios do Alentejo antigo, aquele mundo envolto em realismo mágico dos meus avós: na zona do país mais afetada pelas secas, as pessoas mais antigas e carismáticas desdenhavam o regadio, os canais, as barragens. Consideravam que a verdadeira identidade alentejana era o sequeiro; fundiam o seu carácter pessoal com essa alegada essência alentejana, a terra seca, que, aos seus olhos, era agora profanada pelas barragens dos engenheiros. Ser alentejano era sobreviver ao deserto com a honra de sempre, não era suplantar o deserto com ideias novas e progresso. Quando a barragem de Alqueva foi concluída, voltei a ver este retrato nas reportagens que saíram: por incrível que possa parecer, muitos alentejanos estavam contra Alqueva, uma profanação do verdadeiro Alentejo.