19 agosto 2022 5:09
Se as teses identitárias estivessem certas, quer a dos nacionalistas, quer a dos ativistas do politicamente correto, esta cena de comunhão seria impossível
19 agosto 2022 5:09
A piscina de um hotel algarvio é uma algaraviada babélica: ouve-se inglês, alemão, espanhol, português tropical, francês original e o francês dos nossos emigrantes, holandês, línguas nórdicas. É difícil ouvir uma língua ou um sotaque que nos surpreenda nesta Torre de Babel sulista. Difícil, mas não impossível. Há dias, na piscina, começámos a ouvir uma família que falava uma língua exótica. Mantivemos um debate entre nós: de onde seria aquela sonoridade? Até que ouvimos a palavra decisiva, “Aba”. Já dentro da piscina, os três filhos do casal tratavam o pai por “Aba”. A ressonância bíblica tirou as dúvidas: eram israelitas, falavam hebraico. Claro que “Aba” foi a única palavra que compreendemos. Mas, onde as palavras separam, o tom dessas mesmas palavras une. Se as palavras podem ser a divisão da Torre de Babel, o tom de voz pode ser a união do Pentecostes.