Opinião

Israel e Palestina: um dos conflitos mais longos do mundo

Israel e Palestina: um dos conflitos mais longos do mundo

Luís Correia

Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Wroclaw, Polónia

O conflito israelo-palestiniano é um dos conflitos mais longos do mundo e nem as várias tentativas para trazer paz à região foram suficientes, tornando esta uma luta de interesses a nível mundial, com Israel de um lado e a Palestina do outro, ambos apoiados pelas maiores potências económicas, políticas e militares do planeta

Foi no final do século XIX que a Grã-Bretanha assumiu o controlo da área que agora é conhecida como Palestina, que até à Primeira Guerra Mundial se encontrava sob o domínio do Império Otomano, então derrotado.

Na altura, o território encontrava-se habitado por uma minoria judaica e uma maioria árabe, sendo que o número de judeus acabou por crescer entre as décadas de 1920 e 1940 derivado das perseguições na Europa e do Holocausto da Segunda Guerra Mundial, que originaram uma onda de migração para o território palestiniano e, consequentemente, a escalada de violência entre os povos.

O crescimento das tensões entre os dois povos acabou por tomar proporções ainda maiores quando a comunidade internacional decidiu, em 1947, dar o poder à Grã-Bretanha para estabelecer no território uma divisão em estados judeus e estados árabes, com Jerusalém a tornar-se uma cidade internacional.

O plano votado pela Organização das Nações Unidas (ONU) acabou por correr mal e, sendo a Palestina o lar dos judeus, os árabes também reivindicavam a terra que ocupavam e sempre se opuseram ao estabelecimento territorial idealizado não só pelos britânicos, mas também pela comunidade internacional.

1948: uma data histórica marcada pela criação do Estado de Israel e pela “Catástrofe”

A incapacidade demonstrada pelos britânicos para resolver o conflito levou-os a abandonar as negociações e a sair do país.

Foi então que, em maio de 1948, os líderes judeus declararam a criação do Estado de Israel, desencadeando a primeira Guerra Árabe-Israelita que terminou em 1949 com a vitória de Israel.

As consequências desta guerra foram desastrosas: mais de 750.000 palestinianos foram obrigados a deixar as suas casas e a fugir, numa operação que ficou conhecida como “Al Nakba” ou a “Catástrofe”, com o território a ser dividido em três:

  1. Estado de Israel
  2. Cisjordânia
  3. Faixa de Gaza

Israel acabou por tomar conta de praticamente todo o território, com a Jordânia a ocupar a Cisjordânia e o Egipto a ocupar Gaza. Jerusalém também acabou por ser dividida: as forças israelitas controlavam o oeste e as forças jordanianas controlavam o leste.

A continuação de um conflito que estava só no início e que estaria aqui para durar

No entanto, nunca houve um acordo de paz e os conflitos não se ficaram por aqui, durando várias décadas, com as tensões a aumentarem na região, nomeadamente entre Israel, Egipto, Jordânia e a Síria.

Com a crise do Suez em 1956 e a invasão de Israel à Península do Sinai, Egipto, Jordânia e Síria decidiram assinar pactos para uma defesa mútua, em caso de ataque ou invasão das tropas israelitas, o que acabou por acontecer em 1967 quando as forças aéreas egípcias e sírias foram atacadas. A guerra ficou conhecida como a Guerra dos Seis Dias.

Depois da guerra, Israel ficou ainda mais forte e acabou por expandir o seu território, controlando diversas outras áreas:

  • Península do Sinai
  • Faixa de Gaza
  • Cisjordânia
  • Jerusalém Oriental
  • Colinas de Golan

Entre 1967 e 1979, os conflitos intensificaram-se, com ataques mútuos entre Israel e Egipto, Síria e Jordânia, com o objetivo de estes três últimos recuperarem os territórios que perderam para Israel.

Foi finalmente em 1979 que, após negociações de paz, representantes do Egipto e de Israel assinaram os Acordos de Camp David, um tratado que terminou com os conflitos de 30 anos entre Egipto e Israel.

Os Acordos de Camp David melhoraram significativamente as relações entre Israel e os seus vizinhos. No entanto, a questão de autodeterminação e autogoverno palestinianos continuavam sem solução.

A partir de 1987, e até 2005, os palestinianos que viviam na Cisjordânia e na Faixa de Gaza opuseram-se ao governo israelita por diversas vezes e com os Acordos de Oslo I de 1993 e II de 1995, começaram as mediações dos conflitos, com estruturas a serem estabelecidas para os palestinianos se governarem na Cisjordânia e em Gaza e mais tarde com a retirada obrigatória de tropas israelitas, o que nem sempre aconteceu.

Em 2002, Israel decidiu construir uma barreira à volta da Cisjordânia, apesar da oposição do Tribunal Internacional de Justiça e do Tribunal Penal Internacional.

O que trouxeram os anos 2000 de novo?

Bem, no fundo, novas intervenções de países mundialmente poderosos.

Em 2013, os Estados Unidos da América (EUA) tentaram intervir para um processo de paz (mais um) entre o governo israelita e a Autoridade Palestiniana na Cisjordânia.

No entanto, tudo começou a correr mal quando o Fatah (partido no poder da Autoridade Palestiniana) decidiu formar um governo de unidade com o Hamas (um movimento islâmico palestiniano sunita, considerado terrorista pelos EUA) em 2014.

Foi então que a partir de 2014 os conflitos se intensificaram, com ataques fortes entre o Hamas e os militares israelitas, atingindo principalmente Israel e a Faixa de Gaza.

Apesar das tentativas de cessar-fogo na região e das tentativas de chegar a acordos de paz, o que é certo é que as manifestações continuavam e o conflito tanto continuava a ter períodos de paz como períodos bastante negros, com ataques mútuos, nomeadamente com o lançamento de foguetes, bombas, ofensivas e ataques a edifícios civis.

Com os EUA de Trump ao barulho, houve solução ou agradou-se aos interessados?

Ora, os EUA decidiram intervir, como sempre, na procura de paz na região. A administração de Donald Trump definiu algumas prioridades, nomeadamente a política externa e a realização de um acordo israelo-palestiniano.

Foi em 2018 que o governo de Trump cancelou o financiamento da Agência de Assistência e Obras da ONU, que fornece ajuda a refugiados palestinianos, transferindo a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, revertendo assim uma política de longa data.

Claro que esta mudança caiu bem aos israelitas, mas foi condenada não só pelos palestinianos, como também por diversos outros países do Médio Oriente e também europeus.

Apesar do governo de Trump ter divulgado o sucesso do plano para a paz na região, esse sucesso foi prontamente rejeitado também pelos palestinianos, que apenas viram esta mudança como um apoio ao Estado de Israel e uma afronta à Palestina.

Os EUA podem ter a melhor das intenções com o interesse em proteger a segurança do seu aliado de longa data, Israel, e alcançar um acordo histórico entre Israel e os territórios palestinianos, o que melhoraria a segurança nacional, mas o que é certo é que todas as tentativas de acordo para a paz na região têm sido aceites por uns e rejeitados por outros, o que acaba por beneficiar Israel e prejudicar a Palestina, que continua a sofrer ofensivas a toda a hora.

E recentemente, quais têm sido os desenvolvimentos? Haverá finalmente paz?

A partir do final de 2020, várias famílias que viviam em Sheikh Jarrah – um bairro em Jerusalém Oriental - foram obrigadas a deixar as suas casas por ordem de um tribunal israelita, o que despertou diversas manifestações e diversos protestos contra esta decisão.

Com os protestos a durarem semanas, começaram os confrontos entre os manifestantes e as forças policiais israelitas, com estas a utilizarem granadas de fumo, balas de borracha e canhões de água para conterem a força dos manifestantes. Centenas de pessoas ficaram feridas e estes confrontos aumentaram de tom e cada vez têm sido mais frequentes.

Com as intervenções policiais israelitas, vieram as respostas do Hamas, com ataques aéreos e bombardeamos em território israelita.

Claro que Israel não se ficou por aqui e contra-atacou Gaza e, apesar do objetivo ser enfraquecer o Hamas, Israel atingiu prédios residenciais, sede de meios de comunicação social e instalações de refugiados e de saúde.

As tensões têm crescido, nomeadamente em Jerusalém Oriental, Gaza e Cisjordânia.

Gaza, governada pelo Hamas, defende o seu território e o seu povo, ao passo que Israel e o Egipto defendem as fronteiras, tentando impedir que o Hamas receba armamento, lutando pela segurança nacional.

Apesar de todas as tentativas de paz, esta guerra histórica e ideológica não terá fim, pelo menos enquanto outros interesses se sobrepuserem à paz e à segurança.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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