Começa a ficar complicado dar opinião sobre determinados temas sem cair numa discussão ou rede insultos por parte dos radicais que dominam os lados ou fações de determinado assunto. Esta realidade não se resume à blogosfera ou às redes sociais, mas tomou já conta de parte do espaço político e da opinião publicada.
Tema a tema é fácil encontrarmos exemplos claros e clássicos desta ideologia do radicalismo em que normalmente ninguém das partes em confronto tem razão e mesmo quem procura trazer algum bom senso à discussão ou levantar algum ponto mais ou menos conveniente a uma das partes acaba insultado ou rotulado de anti isto, pró-aquilo, fascista, radical, retrógrado ou ultraliberal ou até comunista.
Muitas vezes, demasiadas até, a classe política espelha o país que temos, a população ou a cultura, mas invariavelmente o exemplo das lideranças políticas e sociais também influencia bastante o comportamento da população. Depois temos os “movimentos de matilha” entre os controladores dos bons costumes, os do politicamente correto e alguns idiotas de serviço.
Exemplos de debates entre radicais temos muitos, com mais ou menos gente inocente que se deixa levar pelas causas de alguns. Um dos exemplos mais recentes é relativo às ciclovias e aos direitos dos ciclistas. Para os radicais das ciclovias não há ciclovias más, mesmo que sejam estimuladoras de acidentes e ponham em causa a segurança dos …próprios ciclistas. Em Lisboa temos vários bons e muitos maus exemplos, mas ai de quem ouse criticar uma que seja. Tal como criticar ciclistas que se deslocam em pelotão ignorando quem vem atrás ou até aqueles que não param nos semáforos encarnados, mas que depois protestam por tudo e por nada. Não se pode apontar o dedo a este ou aquele erro pois é de imediato tudo tratado por igual.
Do outro lado da barricada temos os radicais anticiclovias, capitaneados pelo presidente do ACP, para os quais qualquer ciclovia está errada, qualquer bicicleta é um estorvo, todo o ciclista é um empecilho que tem a mania que é modernaço. No meio destes dois tipos de radicais temos as pessoas de bom senso, que sem clubismos tentam tomar posições realistas e equilibradas, mas se são maioria são as que acabam por ter menos descanso no meio da contenda.
Se o problema fosse apenas sobre o “ciclismo” estávamos bem. Ou não tão mal. O problema é que este tipo de posicionamento ou de estilo se estende a questões bem mais importantes, e muito por culpa dos radicalismos os debates ficam enviesados e raramente se encontra uma solução. É assim nas questões do racismo, nas questões de género, da sexualidade, da xenofobia, nas alterações climáticas e, cada vez mais, nas questões políticas como a localização do aeroporto, os lucros das empresas, etc etc. O tom, o radicalismo a que estamos a chegar é de tal forma extremo que a própria Assembleia da República reflete esse “calor”, como há dias evidenciava o líder de um dos partidos extremistas com “culpas no cartório”.
Esta forma maniqueísta de ver os debates em Portugal não é a regra, mas infelizmente é cada vez menos a exceção. Cada vez mais nos temas importantes da nossa sociedade vemos os assuntos serem tratados como se de um assunto de futebol de tratasse e se ambas as franjas mais radical do espectro político têm responsabilidades nesta matéria, os partidos moderados e de centro não podem cair na tentação de alimentar este estilo que divide artificialmente a nossa sociedade.
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