Formação Profissional – Uma estratégia de resiliência baseada na qualidade e atratividade
Penso que todos entenderão a pertinência deste tema, especialmente no contexto atual
Miguel Leichsenring-Franco *
Penso que todos entenderão a pertinência deste tema, especialmente no contexto atual
A Indústria 4.0, a internet das coisas, o big data, a automatização, a machine learning, entre outros, são temas que estão na ordem do dia e que não podem ser ignorados. Num momento em que a digitalização da economia, e em particular da indústria, cresce de uma forma exponencial, a formação profissional assume um papel fundamental e crítico, tanto para as empresas, como para os jovens e para a sociedade em geral. Com efeito, o nível de competitividade do país e das suas empresas, dependerá diretamente do nível de competência dos seus profissionais para o desempenho das suas funções.
Se no passado a qualificação dos profissionais já era importante, não tenho dúvidas em afirmar que hoje as pessoas e as suas qualificações são um dos maiores desafios que as empresas e os seus líderes enfrentam.
E por isso, a existência de um sistema de formação que seja atrativo, tanto para os jovens como para as empresas, e que garanta uma formação de qualidade, é crucial.
É por esta razão que a Câmara de Comércio e Indústria Luso-alemã (CCILA) tem defendido que o país deve garantir a existência de um Sistema de Formação Profissional forte e adequado às necessidades das empresas. Um Sistema que seja também atrativo para os jovens, levando-os a colocar a opção pela via da formação profissional ao mesmo nível que colocam a opção pelo ensino secundário ou superior, sem estigmas ou preconceitos.
Mas para que isso seja possível, é necessário que se mude radicalmente a imagem que a formação profissional ainda tem na sociedade: a de uma via que significa uma “opção de segunda”, destinada aos jovens com dificuldades e menos válidos, que não conseguem sucesso nas vias académicas. É necessário, e urgente, que a formação profissional seja encarada como uma opção “normal” e de qualidade, que permita aos jovens adquirirem competências adequadas para uma rápida e efetiva integração no mercado de trabalho. Que seja capaz de atrair os melhores!
De salientar, ainda, que a existência de recursos humanos qualificados é uma mais-valia para as empresas que atuam em Portugal, mas também um fator de valorização para as empresas que ponderam investir no país. E hoje todos sabemos como é importante para o nosso país a capacidade de atrair investimento estrangeiro.
Quando olho para o exemplo da Alemanha, onde o Sistema de Formação Profissional dual tem uma longa tradição, não tenho dúvidas em afirmar que ele é um dos pilares fundamentais da competitividade das suas empresas, em particular das PME. A estabilidade económica da Alemanha, bem como a competitividade da sua economia, seria impensável sem a existência do seu sistema de formação profissional. Um Sistema que é reconhecido e valorizado pela sociedade e pelos seus jovens, mas, especialmente, pelas suas empresas, que assumem um papel central em todo o processo, já que são elas que, em primeira linha, definem a quantidade e a qualidade da formação. São elas que, através das Câmaras de Comércio e Indústria, informam sobre as suas necessidades e sobre as transformações nas suas áreas de atividade, alterações sociais e tecnológicas e contribuem para a atualização permanente dos programas de formação. São também elas que colaboram diretamente na formação dos jovens, ao disponibilizarem tutores, devidamente formados, que os acompanham durante todo o tempo que passam na empresa.
Este é, sem dúvida, um dos motivos para as baixas taxas de desemprego jovem verificadas na Alemanha (aproximadamente 6,6%), em comparação com as taxas que temos em Portugal (cerca de 24% em dezembro de 2020), mesmo em tempos de pandemia.
Ao integrar um jovem durante o seu processo formativo num ambiente empresarial, onde ele irá desempenhar tarefas reais inerentes à profissão, as empresas estão a fomentar ativamente a cultura empresarial, o trabalho em equipa, a orientação para o cliente e para os objetivos estratégicos da organização.
A formação em contexto real de trabalho, dá aos jovens a possibilidade de contactarem com o mundo do trabalho, com os seus problemas, desafios e exigências, adaptando-se desde o início a essa realidade e consolidando os conhecimentos teóricos com os práticos. Naturalmente, que após a obtenção de uma profissão poderão sempre continuar os seus estudos superiores, caso seja esse o seu desejo, uma vez que o sistema de formação dual permite a obtenção também do certificado equivalente ao 12.º ano de escolaridade.
Mas se o país precisa de um sistema de formação inicial de jovens robusto e resiliente, precisa, igualmente, de apostar na formação contínua ao longo da vida. Com efeito, é imperativo que os profissionais se mantenham aptos e capazes de responder às rápidas e imprevisíveis mudanças do mercado de trabalho. Os desafios que hoje se colocam aos trabalhadores mais velhos, sobretudo os que têm mais de 45 anos e qualificações mais baixas e desadequadas, são altamente exigentes e críticos. As Universidades, Politécnicos, Escolas e Centros de Formação, devem desenvolver, com urgência, programas de formação fortemente orientados e adaptados para a qualificação e requalificação de adultos.
Portugal conta com inúmeros fatores que o tornam atraente para potenciais investidores: a situação política estável, a rede de infraestruturas viárias e digitais muito desenvolvida e a excelência dos seus recursos humanos. A aposta numa estratégia de formação profissional resiliente e baseada na qualidade e na atratividade, deve ser mais um fator a considerar.
* Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã
Ao apoiar a DUAL, o seu serviço de Qualificação Profissional desde 1983, a CCILA tem dado um contributo, mas também um sinal importante, para a valorização da formação profissional no país.
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