Opinião

Raspar o pobre

1 abril 2021 8:54

Para aligeirar o fardo fiscal, que é tão mais pesado quanto mais rico é o contribuinte e que deveria financiar o património, carrega-se no fardo do mais pobre, vítima preferencial da “epidemia da raspadinha”

1 abril 2021 8:54

Cada português gasta, em média, 160 euros por ano na raspadinha (4,7 milhões de euros por dia). Em Espanha, são 14 euros. Só que a maioria dos portugueses não joga, o que atira a despesa por cada jogador para muito mais alto. Grande parte são pobres, mulheres e mais velhos. Metade é de classe baixa (E), 27% de classe média baixa (D). O que quer dizer que quase 80% têm rendimentos muito baixos. 61% são jogadores frequentes, 23% regulares. Até à pandemia, o número de jogadores nunca parou de subir. Há quem gaste 500 euros por dia. O psiquiatra Pedro Morgado explicou as razões da “epidemia da raspadinha” na “The Lancet Psy­chiatry”. Como a Lotaria ou o Euromilhões, a venda é livre — pessoas com adição não podem ser inibidas de jogar —, está disseminada e o preço é baixo. Mas, como nos casinos, o retorno é imediato. Junta o pior dos dois mundos.