Opinião

Tende piedade da nação

Clara Ferreira Alves

Clara Ferreira Alves

Escritora e Jornalista

8 agosto 2020 9:06

O Líbano é uma manta de retalhos que milagrosamente sobrevive e, de vez em quando, prospera. Não é um desses momentos

8 agosto 2020 9:06

Tende piedade da nação cheia de crenças e vazia de religião. Tende piedade da nação que veste o tecido que não teceu. E que come o pão que não colheu.”

A citação é do poeta Khalil Gibran, libanês e americano, e foi usada como título pelo jornalista Robert Fisk no seu livro sobre a guerra, as guerras do Líbano, “Pity the Nation”. “Pity the Nation” é um retrato do sofrimento e da resiliência libaneses, e sobretudo da gente da capital, Beirute. A Paris do Médio Oriente, do mesmo modo que Detroit foi a Paris do Midwest. Acabaram mal. Não houve calamidade a que os libaneses e Beirute tivessem sido poupados. Dizer libaneses é arriscar, porque um sentimento nacional ténue não esconde aquilo que o Líbano é, um país dividido e comandado por clãs, fações, tribos, credos, famílias, milionários e milícias. O lugar onde as religiões do Oriente e do Ocidente se encontraram para fazer a guerra, esquecendo o credo em benefício do fanatismo protetor da filiação. O Líbano é uma manta de retalhos que milagrosamente sobrevive e, de vez em quando, prospera.