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Não fica bem fica mal
Bom dia!
Não fica bem. A forma como António Costa tentou fazer o controlo de danos da mini crise política por causa do lar de Reguengos vai pôr a Ana Mendes Godinho, ministra da Solidariedade e da Segurança Social, em trabalhos esta manhã no Parlamento. E não vai ser fácil desembaraçar-se. Precisará de mais consistência política do que a revelada na entrevista que deu ao Expresso em agosto - em que admitiu não ter lido o relatório sobre o lar. Afinal, ao contrário do que o primeiro-ministro repetiu com grande convicção noutra entrevista ao Expresso, a ministra não mandou fazer qualquer “inquérito”, e o que enviou para o Ministério Público foi um relatório de uma inspeção realizada em março, ainda nem o país tinha passado pelo estado de emergência, a que acrescentou nos anexos uma cronologia e alguma informação enviada pela Segurança Social distrital. A Rosa Pedroso Lima conta a história esta manhã no Expresso online: o relatório, que foi pedido pelos deputados, é anódino.
Vale a pena fazer aqui um breve flashback. Quando Mendes Godinho estava a ser crucificada em público, António Costa garantiu primeiro em declarações públicas e depois em entrevista ao Expreso que tinha havido lugar a um "inquérito": “Em julho, a ministra mandou abrir um inquérito e comunicou esse inquérito ao Ministério Público”, assegurou o primeiro ministro.
Ora, perante esta resposta convém recordar o que disse Ana Mendes Godinho, uma semana antes na sua polémica entrevista:
Expresso: Acionou a inspeção da Segurança Social para perceber se houve falhas naquilo que são as obrigações do lar?
Ana Mendes Godinho: Logo na sequência do que estava a acontecer em Reguengos pedi à Segurança Social informação e análise sobre toda a situação e sobre todo o histórico.
Expresso: E já obteve essa informação?
Ana Mendes Godinho: A Segurança Social reportou-me toda a atividade que tinha desenvolvido com o lar ao longo da pandemia e as várias interações e medidas de reforço que tinham sido adotadas, nomeadamente os testes e a distribuição de EPI.
Na verdade, nunca na entrevista a ministra falou de um “inquérito” e omitiu que tivesse enviado informação para a Procuradoria. Questionado depois sobre essa contradição, António Costa respondeu com uma graça: “Pois, não sei. Acho que tive mais sorte do que vocês na pergunta que fiz à ministra. Na pergunta que fiz à ministra, a resposta que me deu foi esta.”
Resumindo: a ministra da Segurança Social fez, de facto, um pedido de informação aos serviços, como começou por dizer, e não ordenou qualquer “inquérito” no sentido de ter mandado investigar - em apenas dois dias - o que se passara no lar de Reguengos. As palavras contam. Vamos ver que tipo de justificação dá esta manhã aos deputados e se explica o equívoco sobre a investigação que teria mandado fazer. Ou fica mal.
Outra revelação para as perguntas dos deputados esta manhã: a Fundação que é proprietária do lar de Reguengos de Monsaraz contratou consultores externos para averiguar responsabilidades no surto de covid-19 e, nas conclusões preliminares, a Ordem dos Médicos é acusada de ter criticado a ausência de um plano de contingência que afinal existia desde abril, também escreve hoje a Rosa Pedroso Lima. A instituição enviou as conclusões, mas o documento foi ignorado por que quem fez a auditoria da OA, porque “o relatório já estava fechado”.
OUTRAS NOTÍCIAS
É praticamente unânime que não ficou bem a António Costa esta rábula do apoio a Luís Filipe Vieira e não há quem de relevante apareça a defender a chinese wall entre o cidadão António e o primeiro-ministro Costa. Amanhã, na reunião com o chefe do Governo, Marcelo Rebelo de Sousa deverá abordar o tema, mas fonte próxima do Presidente não dá como certo que este venha a desenvolver muito o assunto, escreve Ângela Sillva. O sinal presidencial está dado: o Presidente já deixou explícito em público que acha mal que titulares de cargos políticos apareçam em comissões de honra de candidatos à liderança de clubes.
O tema foi o prato principal ontem na Comissão Política #140 (o podcast da secção de política do Expresso), mas a polémica benfiquista não se esgotou em António Costa: o líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, escreveu no Facebook a censurar o primeiro-ministro, dizendo que “o exemplo não é apenas a melhor forma de influenciar os outros, é a única”. Mas Telmo Correia, líder parlamentar do partido também faz parte da comissão de honra de Vieira. E Sílvio Cervan, vice-presidente da sua direção é também vice (suplente) do mesmo Benfica. Também ficou ficou mal.
E melhor não ficou o Benfica propriamente dito - aquele que joga nas quatro linhas e não nos corredores das alta política -, com a derrota de ontem frente ao PAOK: “Uma parte das ambições do Benfica para a nova época morreu antes mesmo de começar. A derrota em Salónica por 2-1 deixa os encarnados fora da Liga dos Campeões, os cofres da Luz sem muitos milhões e com um projeto de um novo Benfica já coxo. Sentirá agora Jesus a pressão?”, escreve a Lídia Paralta Gomes na sua crónica sobre o jogo. Jorge Jesus acredita que se passasse “estas duas eliminatórias”, a sua equipa podia “ir muito longe na Champions". Nunca o saberemos...
Ficará bem? Esperemos que sim, porque “o estado da União é um estado preocupante", diz ao Expresso o eurodeputado Paulo Rangel (PSD), a propósito do debate desta manhã no Parlamento Europeu, em Bruxelas. Este será o primeiro discurso do estado da União Europeia de Ursula Von der Leyen, - cujas atualizações pode acompanhar aqui -, quando as crises aparecem por todo o lado: a pandemia, o crash económico, a deslealdade britânica com a gestão do Brexit, a catástrofe humanitária dos refugiados, o retrocesso do Estado de Direito em países como a Polónia ou a Hungria… Enfim, a presidente da Comissão vai tentar apresentar receitas para salvar a união com a bazuca de milhões, mas há problemas que não se resolvem só com dinheiro.
Enquanto a Europa debate o futuro, quatro advogados portugueses sobem ao sexto piso do tribunal para estarem, pela primeira vez, na mesma sala com Rui Pinto, que o Ministério Público acusa de ser o responsável pela devassa dos seus e-mails e documentos, explica-nos o Miguel Prado. Ontem, Aníbal Pinto, o ex-advogado de Rui Pinto declarou em tribunal ter levado a sério o plano para que Rui Pinto fosse contratado pela Doyen.
Foram quatro horas e meia de audição de António Ramalho, ontem, no Parlamento, e devemos ver esta maratona apenas como o aquecimento para o que teremos ao longo dos próximos meses, quando avançar mais uma comissão de inquérito à banca - desta vez ao Novo Banco que Ramalho lidera. O presidente do banco garantiu aos deputados que cumpriu sempre a lei e prometeu que se demite se tiver havido operações irregulares com a Lone Star - o fundo norte-americano que comprou o “banco bom” que sobrou do BES. Sobre o tema de que se tem falado nos últimos dias, as dívidas da empresa de Luís Filipe Vieira, Ramalho assumiu que as transações feitas com a Promovalor estão a ser alvo de uma análise específica pedida pelo Fundo de Resolução. Já sobre o Benfica, e o financiamento de 28 milhões recebido no início deste ano, Ramalho afirma que não se pode confundir com o seu presidente. E até pediu uma autorização ao clube para quebrar o sigilo bancário e mostrar como tem tido "um comportamento exemplar".
Conforme passam os dias, não parece que tão depressa vá #ficartudobem. Enquanto caminhamos passos largos para uma segunda vaga da pandemia, como demonstram estes números que pode conferir nos gráficos do Expresso, o Presidente da República dava uma cotovelada na Igreja Católica a propósito da quantidade de pessoas que se juntou a 13 de setembro em Fátima - e sem a organização e enquadramento que se viu com os comunistas na Festa do “Avante!”. Marcelo não quis deixar passar em claro e ontem avisou a Igreja Católica em termos católicos: “Deus queira que eu me engane relativamente ao facto de se entender que 50 mil pessoas, no dia 13 de Outubro, é uma realidade segura”. E explicou: “Sabem que não sou insuspeito, sou católico e fatimista, onde tenho ido vezes sem conta. Mas não é disso que se trata. É da perceção da sociedade num momento em que há 400, 500, 600 ou ligeiramente mais casos por dia”. Não ficará bem a igreja repetir o cenário de domingo.
Da salvação do espírito para a salvação da economia: ontem, António Costa Silva, conselheiro do primeiro-ministro, apresentou o seu plano já com os contributos da sociedade civil para dizer que, neste contexto, "não é o mercado que nos vai salvar, é o Estado, são os serviços públicos", música para os ouvidos dos socialistas que o escutavam. "Espero que haja a humildade de aceitar esta derrota história que a realidade impôs a ideias ultraliberais". Foram duas horas e meia, para depois o primeiro-ministro dizer que o dinheiro "não dá para tudo", apesar de estarmos a falar de 57,9 mil milhões de euros - a que acrescem os dez orçamentos do Estado que se farão durante a vigência do plano. Era bom que corresse bem.
André Ventura vai demitir-se? A sondagem da intercampus para o Correio da Manhã e o Negócios revela que Ana Gomes teria 14% nas presidenciais contra 9,4% do líder do Chega. O atual Presidente continua com valores elevados, na casa dos 60%, apesar de estar a perder para a nova concorrência.
Marco António Costa, antigo secretário de Estado de Passos Coelho, participou na última reunião dos órgãos sociais do banco Eurobic na qualidade de representante de Isabel dos Santos, que, apesar de não ter direito a voto, continua a tentar vender a sua participação.
Antonoaldo Neves sai esta semana da liderança da TAP, Ramiro Sequeira é cooptado a seguir.
NO RESTO DO MUNDO...
Na Bielorrússia, a Human Rights Watch denuncia tortura contra detidos, através de espancamentos, choques elétricos e pelo menos uma violação. Segundo a organização, os relatos são comprovados por diferentes documentos médicos e fotografias partilhadas que mostram os feridos.
O veneno parece não ter sido fatal. O opositor russo alegadamente envenenado partilhou um fotografia e enviou uma mensagem a partir do hospital “Olá, sou o Navalny. Tenho saudades vossas.” Dois laboratórios independentes na Suécia e em França confirmaram a acusação das autoridades de Berlim de que o principal opositor a Vladimir Putin foi intoxicado com o agente nervoso novichok.
O empresário e benemérito Bill Gates disse ontem que em 25 semanas regredimos 25 anos, por causa da covid-19. “A pandemia reduziu a distribuição de comida, aumentou os preços dos alimentos e impediu as pessoas de se moverem em busca de oportunidades como antes faziam.” Não fica bem fica mal.
Apesar de tudo, alguma coisa evoluímos. Imagine que um designer holandês desenvolveu caixão ecológico feito com fibras de fungos: o ‘Living Cocoon’ já foi usado num funeral e tem como ideia base o desejo de voltar a unir as pessoas e a natureza, como um só “novamente”: “Podemos enriquecer o solo em vez de o poluir.” Ora aí está uma forma de todos contribuirmos para o bem do planeta.
FRASES
“O que fez António Costa [ao apoiar Luís Filipe Vieira] é o tipo de atos que degrada a democracia. Que, nos tempos de 2020, é uma ajuda servida de bandeja à extrema direita”
Maria João Marques, “Público”
“Entendo perfeitamente a revolta de muitos eleitores de direita. Mas a insatisfação com Marcelo e com Rio não justifica que se passe um cheque em branco a Ventura.”
João Marques de Almeida, “Observador”
“Encostado à esquerda da sua esquerda — ou já mesmo casado com ela — o PS mudou de pele. Julgo que terá sido de vez, seguindo aliás os seus pares extra-muros. Não se vislumbrando que quem mande ou decida no Largo do Rato, apesar de se definir como “social democrata”, se aflija com tamanha metamorfose e os seus nefastos efeitos.”
Maria João Avillez, “Observador”
O QUE ANDO A LER
Já é a segunda vez que falo deste livro aqui, mas que posso fazer, o calhamaço tem mais de 800 páginas e fui intercalando a leitura com outros que me iam aparecendo. Em todo o caso, agora avanço com outro fôlego, depois de ter comprado a tradução portuguesa na Feira do Livro. "O Espelho e a Luz", de Hillary Mantel (Presença), é o terceiro volume da triologia (que já valeu à autora dois Man Booker) que conta a história de Thomas Cromwell, o filho de ferreiro promovido a lorde, secretário-mor do rei e "Lord of the Privy Seal".
O original em inglês, por mais que seja interessante ler aquilo que verdadeiramente a autora escreveu, não é de consumo fácil, pois o vocabulário específico da época não facilita a rapidez da leitura. Para não cansar os leitores destes curtos que têm a paciência para chegar aqui abaixo, deixo para o próximo encontro (espero) uma conclusão sobre o livro, cujo epílogo já se sabe: todas as conspirações que estão em marcha acabam com a execução do próprio Cromwell. Parece que Henrique VIII depois se arrependeu, não do crime, mas da falta que o homem veio a fazer-lhe. Há histórias que acabam mal.
O que espero que corra bem é a sua semana. Tenha um bom dia e continue a seguir o Expresso, a Tribuna e a Blitz.
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