O número que dá o título a este Curto marca o nível da pobreza em Portugal. Qualquer pessoa que tenha rendimentos mensais – ordenados, pensões ou subsídios - inferiores a 468 euros é considerada pobre, ou como estando em risco de pobreza. No caso de um casal com menores dependentes o rendimento dos dois só pode ir até aos 982 euros por mês. Mais um cêntimo e deixa de fazer parte desta estatística importante para perceber o grau de desenvolvimento de um país. Quanto menos pobres, mais desenvolvimento económico e social. É lógico. Este foi o valor de referência para os dados sobre pobreza em 2017 e provavelmente vai mudar este ano. Mas a alteração não deverá ser muito significativa. Se ganha 469 euros, já não é pobre.
Hoje, às 11 horas, o Instituto Nacional de Estatística vai divulgar os dados referentes a 2018. Qualquer notícia que não seja uma nova baixa do número de pessoas em risco de pobreza será uma péssima notícia e até mesmo surpreendente. Afinal, os anos da crise já passaram e estamos numa fase de crescimento. Certo?
No ano passado, o mesmo relatório do INE revelava que 17,3 por cento das pessoas que vivem em Portugal estavam em risco de pobreza. Eram 1,7 milhões. O número mais baixo de sempre desde que este indicador é tratado estatisticamente. Aliás, desde 2014 (o ano em que a troika saiu de Portugal) que este indicador vem a baixar e, se as previsões mais otimistas se concretizarem, hoje vamos ouvir mais ou menos o mesmo: nunca houve tão poucos pobres como agora, o risco de pobreza em Portugal é o mais baixo de sempre, melhoram as condições de vida, etc, etc.
É verdade que a linha tem de ser traçada em qualquer lado mas já tentou, por exemplo, alugar uma casa em Lisboa ou arredores por 468 euros? Ou mesmo um quatro? Já viu quanto é que sobra? Ou se chega? O limite a partir do qual uma pessoa é considerada pobre varia de país para país e está obviamente relacionado com o nível de rendimentos de cada um. No Luxemburgo e na Áustria por exemplo, o limiar da pobreza é o dobro do que está marcado em Portugal.
Ana Mendes Godinho garantiu numa entrevista que o objetivo do Governo “é erradicar a pobreza”. Mas o desígnio da ministra doTrabalho ainda está longe. Para podermos comparar a nossa situação com o resto dos países da União europeia há outro indicador que junta à pobreza o risco de exclusão social. E assim o número sobre para 21,6 por cento, mais ao menos o mesmo que na média europeia. O que significa que no ano passado um em cada cinco portugueses vivia em risco de pobreza ou exclusão social. Esta notícia nunca foi boa.
Hoje também é dia de publicação relatório sobre o estado da educação em Portugal e não há muitos motivos para festejar: Para além de revelar que as crianças portuguesas são das que passam mais horas na escola, o relatório do Conselho Nacional de Educação diz que o sistema está mais pobre, há menos professores jovens e o sucesso é apenas q.b. E, claro, os alunos com menos recursos económicos - mais pobres - têm menos sucesso na escola e muitos acabam em cursos alternativos ao ensino regular. É este ciclo que tem de ser quebrado.
OUTRAS NOTÍCIAS
Jorge Jesus já é carioca. O treinador português continua a disfrutar do doce sabor da vitória e foi nomeado cidadão honorário do Rio de Janeiro depois de uma iniciativa do vereador Felipe Michel, ex-jogador dos escalões de formação do Flamengo. Jesus ganhou em menos de 24 horas a Taça dos Libertadores da América e o Campeonato brasileiro conseguindo igualar o feito do Santos de Pelé que também juntou os dois títulos no início dos anos 60. Emocionou-se ao lado da mulher e dos filhos, falou da avó brasileira e revelou que vai ser o tema de um livro a publicar no Brasil e que vai doar parte dos lucros. E agora? JJ foi criticado no Brasil por causa do suposto currículo pobre e só assinou contrato por uma época. Mas ganhou tudo em seis meses, é tema de uma canção e ainda tem o mundial de clubes para disputar. Depois, se o convite surgir, deverá pegar num grande da Europa, o grande desafio que ainda lhe resta. Ou então fica no Brasil para tentar o bi-campeonato. Nós já temos 88 razões para acreditar nele.
Em Dresden, na Alemanha, ladrões com conhecimento de História de Arte roubaram do museu Grunes Gewolbe (o cofre verde, tradução livre) um conjunto de joias do século XVIII no valor de mil milhões de euros. Os intrusos aproveitaram uma falha de energia provocada por um misterioso incêndio interior para arrombar uma das janelas e levaram três conjuntos de diamantes e rubis. As joias não estavam no seguro e são praticamente impossíveis de vender.
O julgamento que tem apaixonado o país está a entrar na reta final. Hoje, no Tribunal de Loures, serão feitas as alegações finais do Ministério Público e da defesa dos dois suspeitos: Rosa Grilo e António Joaquim. O advogado do ex-funcionário judicial acredita ter conseguido demonstrar que houve contaminação da alegada arma do crime e vai pedir a absolvição do amante de Rosa Grilo, a viúva do praticante de triatlo que jurou em tribunal que Luís Grilo foi assassinado por angolanos com ligações ao tráfico de diamantes.A mulher pediu desculpa ao tribunal por ter apresentado versões contraditórias dos factos. Há séries da Netflix com ingredientes mais pobres.
Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, recebe hoje o Coletivo de Mulheres de Braga, que vai entregar-lhe a petição Parem de nos matar – pela erradicação da violência doméstica. Este ano, já morreram 32 mulheres e homens vítimas de violência doméstica. Não digam que foi por amor.
No CDS (o PP caiu em desuso) a corrida para o líder que se seguirá à era Cristas está a aquecer. Filipe Lobo de Ávila, que já foi secretário de Estado da Administração Interna e é crítico do atual estado de coisas centristas, reafirmou a candidatura depois de ter sido picado pelo anúncio do avanço de João Almeida, porta-voz do partido e, talvez, o candidato da continuidade. As eleições são daqui precisamente dois meses, a 25 e 26 de janeiro. Para além de Ávila e Almeida, é candidato Abel Matos Santos.
Cinco meses depois, Mota Amaral terminou o relatório sobre as condecorações a Joe Berardo, o empresário que foi à Assembleia da República jurar (a expressão é literal, não se pode prestar falsas declarações no Parlamento) que não tinha dívidas à banca apesar de as empresas si ligadas deverem mil milhões de euros à CGD, ao BCP e ao Novo Banco. A discussão sobre o relatório foi marcada para a semana que antecede o Natal e pode terminar com uma simples admoestação ou, no limite, à irradiação do condecorado. E, claro, a absolvição. Berardo foi condecorado por Ramalho Eanes e, mais tarde, por Jorge Sampaio.
O próximo capítulo do diferendo Joacine Katar Moreira vs Livre vai decorrer no conselho de jurisdição do partido. Este órgão funciona como uma espécie de tribunal e vai decidir se há castigos a aplicar depois de a deputada se ter abstido num voto de censura a uma alegada de agressão de Israel ao povo palestiniano. Moreira explicou que “votou contra si própria” depois de, durante três dias, não ter conseguido contactar nenhum dos membros da direção do partido. Rui Tavares, o presidente, não acredita nesta versão e diz que a história “não é para rir”. A deputada disse ao Observador que foi eleita “sozinha”. A história promete.
Na Albânia, um tremor de terra matou, pelo menos, quatro pessoas e feriu outras 150. Os números são provisórios.
Na Síria, depois de ter abandonado os lutadores curdos à sua sorte, as tropas americanas juntaram-se novamente aos aliados do Curdistão para lançar uma operação de larga escala contra o terrorismo e o que resta do Daesh no nordeste do país.
Em Londres, as autoridades locais decidiram não renovar a licença da Uber para operar como transporte devido a "persistentes problemas de segurança". A medida não tem efeitos imediatos e a Uber, que tem sido alvo de contestação em Portugal por parte dos taxistas, tem 21 dias para recorrer da decisão.
Dica grátis para o camarada que fizer o Expresso Curto de 5 de maio: a Unesco decidiu que este será o dia oficial da língua portuguesa.
Frases, especial JJ
“O meu país está orgulhoso de mim, de certeza”
Jorge Jesus, campeão e carioca honorário
“O primeiro instinto, o impulso natural e imediato, seria condecorar Jorge Jesus”
Marcelo Rebelo de Sousa, que refreou o entusiasmo e vai ouvir o Conselho das Ordens antes de por a medalha no pescoço de Jesus para “evitar injustiças”
“Mister, querido carioca, não deixa a gente não. Esse povo precisa ainda muito do senhor”
Felipe Michel, vereador que teve a iniciativa de condecorar JJ ainda antes das duas conquistaS
"Se os portugueses descobriram o Brasil, o mister redescobriu o futebol",
Tânia Bastos, vice-presidente da Câmara do Rio de janeiro, que se antecipou a Marcelo nas homenagens
“Podíamos ter feito o mesmo no Sporting mas um monstro atravessou-se no nosso caminho”
Octávio Machado, em lágrimas, depois de ser elogiado em direto por Jorge Jesus. O monstro? Acho que vocês sabem de quem é que ele está a falar
“Fico feliz por ele. Parabéns ao JJ”
José Mourinho, the friendly one
“A minha avó era brasileira. No meu sangue corre sangue de Portugal e do Brasil”
Jorge Jesus, e a explicação que faltava para o talento para o samba demonstrado durante o desfile dos campeões no Rio de Janeiro
"No Brasil aprendi a dizer amor. Em Portugal é uma complicação para dizer amor
Jorge Jesus, o romântico
O que ando a ler
Rope Burns – Stories from the corner
F.X. Toole
Gosto tanto deste livro que estou a lê-lo pela segunda vez e já o ofereci de presente de aniversário a um amigo querido. “Rope Burns” são seis contos sobre o mundo e as figuras do boxe e foi adaptado para o cinema por Clint Eastwood no célebre “Million Dolar Baby”, que valeu ao velho cineasta um óscar de melhor filme e outro de melhor realizador e estatuetas douradas para os atores Morgan Freeman e Hillary Swank. Paul Haggis também ganhou o óscar de melhor argumento adaptado, mas F.X. Toole, que na verdade se chamava Jerry Boyd (FX é de Francisco Xavier, o santo e O’toole de Peter, o ator) não teve direito ao seu momento de glória. Quando o filme estreou, já tinha morrido depois de o coração lhe ter falhado. Começou a jogar boxe aos 46 anos, tornou-se treinador, teve um primeiro ataque de coração, voltou aos ringues para trabalhar como “cutman”, o homem do canto que impede os pugilistas de sangrarem devido aos corte e escreveu anonimamente e sem qualquer tipo de aprendizagem durante 40 anos. Quando já tinha passado dos 70, publicou este livro de contos que teve algum reconhecimento de crítica e êxito de público por causa da escrita simples e das personagens complexas, ao melhor estilo do romance americano. Os direitos para o cinema foram comprados pela produtora de Clint Eastwood que o adaptou para o grande ecrã em 2004. Toole já tinha morrido há dois anos e não chegou a levantar os braços em sinal de vitória.
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