Longevidade

Não basta mudar hábitos, “precisamos de melhor medicina”

O responsável pela organização do Longevity Med Summit, Jorge Lima
O responsável pela organização do Longevity Med Summit, Jorge Lima

O segundo e último dia do Longevity Med Summit, na Casa das Histórias Paula Rego, ficou marcado pela presença de Aubrey de Grey, um dos principais investigadores das áreas do envelhecimento e longevidade

O papel da investigação, o desenvolvimento de soluções inovadoras e a vertente económica estiveram entre os temas abordados no Longevity Med Summit nesta sexta-feira, último dia do encontro que reuniu vários investigadores nacionais e internacionais. Agendado antes da pandemia para acontecer na Suíça, acabou por ser Portugal o anfitrião daquele que é considerado um dos maiores eventos sobre longevidade em todo o mundo.

A missão ficou cumprida: houve partilha de conhecimento científico e, no final, sobrou uma ideia. É preciso apostar na saúde e pensar no envelhecimento numa lógica preventiva.

Estas foram as principais conclusões:

Rejuvenescer

É um dos maiores gurus da longevidade a nível internacional. Aubrey de Grey, biomédico gerontologista da Califórnia, é o fundador da SENS Research Foundation. “Tenho várias organizações, mas esta dedica-se especificamente a reparar os danos moleculares e celulares associados ao envelhecimento, que é o maior problema da humanidade”, disse ao Expresso.

“Não podemos fazer apenas mudanças de estilo de vida e de hábitos. Precisamos de melhor medicina e os governos sabem disso. Há também um benefício económico incrível, o problema é que os decisores não acreditam em investigadores como eu”, afirma. Autor do livro “Ending Aging: The Rejuvenation Breakthroughs That Could Reverse Human Aging in Our Lifetime”, em Cascais o investigador dedicou a sua palestra ao tema “Biotecnologia do rejuvenescimento: a linha da meta está à vista?”.

Inovação

Uma vez que os pacientes e os cuidadores “conhecem melhor as necessidades e os desafios” que enfrentam, devem ser “parte do processo” na procura de soluções. Os projetos por eles desenvolvidos reúnem-se na plataforma Patient Innovation, apresentada e liderada pela diretora da NOVA Medical School, Helena Canhão.

Inspirado pelo avô, que sofre de Alzheimer, Kenneth Shinozuka criou um sensor que permite que o cuidador seja alertado quando o paciente sai da cama. Outro exemplo é o de Lisa Crites: depois de ter cancro da mama e fazer uma dupla mastectomia, foi aconselhada a não molhar a área, de forma a prevenir infeções – acabou por inventar uma camisola que lhe permite tomar banho normalmente.

Economia

Para o empresário britânico Jim Mellon, mais do que uma oportunidade, a longevidade é um “imperativo económico”. Investidor na área do imobiliário, em 2017 publicou o livro “Juvenescence: Investing in the age of longevity”. Mas já há 20 anos que aposta em empresas de biotecnologia, inspirado por um amigo que tomava vários comprimidos por dia, não podia beber café e enfrentava diversos problemas de saúde, contou ao Expresso.

Perante a transição demográfica – estima-se que em 2050 mais de metade da população tenha mais de 65 anos –, o investidor refere que o rácio de pessoas no ativo por reformado tornará os sistemas de proteção social insustentáveis. A solução passa por um “aumento da idade da reforma” ou por abrir as portas à imigração. Mas se, por agora, vários países rejeitam esta via, Mellon defende que, daqui a 20 anos, vamos “implorar” por mão de obra estrangeira.

Investigação

Cláudia Cavadas, líder do grupo de neuroendocrinologia e envelhecimento do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, dedica-se ao estudo da longevidade a nível cerebral. “Tentamos perceber alguns dos processos que acontecem no hipotálamo, que controla a alimentação, a sede, o sono e, consequentemente, o envelhecimento”, explicou ao Expresso. Uma das hormonas em estudo é a grelina, conhecida como “hormona da fome”, e o seu papel no envelhecimento das células.

A ex-vice-reitora da Universidade de Coimbra considera que existe um desequilíbrio no apoio à investigação. “Há grandes investimentos na oncologia, mas falta investir no envelhecimento. A nossa idade é um fator de risco brutal”, salienta a investigadora, que trouxe ao Longevity Med Summit uma apresentação dedicada à pesquisa biomédica fundamental, interdisciplinaridade e longevidade.

Cuidados

Responsável pela inovação na Clinique La Prairie, na Suíça, desde 2018, Olga Donica começou a carreira como nutricionista e é defensora de cuidados de saúde altamente personalizados, com uma visão holística da saúde e do bem-estar. “Estes cuidados significam muito para os pacientes, mas também para nós, porque nos permitem medir resultados e estudar melhor a biologia humana, daí a importância da tecnologia e de novos protocolos”, destacou.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: scbaptista@impresa.pt

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