Desafios da longevidade no meio urbano: cidades são “pouco amigas dos idosos”

O que é preciso mudar nas cidades, nomeadamente ao nível da mobilidade, habitação, inclusão e serviços, foi o tema abordado nesta segunda-feira em mais uma webtalk do projeto do Expresso dedicado à longevidade.
Moderado pela jornalista Raquel Albuquerque, o painel contou com a participação de Ana Clara Silva (diretora regional da Direção para as Políticas Públicas Integradas e Longevidade da Madeira), Mário Rui André (coordenador da Unidade de Missão Santa Casa para o programa “Lisboa, Cidade de Todas as Idades”), Hugo Santos Ferreira (presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários) e José António Cortez (diretor executivo da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal).
Estas foram as principais ideias abordadas:
As dificuldades na circulação são um fator determinante, que torna as cidades “muito pouco amigas dos idosos”, classifica José António Cortez. Faltam transportes preparados para pessoas com mobilidade reduzida, há problemas de acessibilidade nos espaços públicos (por exemplo com a existência apenas de escadas e não de rampas) e demasiados obstáculos na via pedonal.
Hugo Santos Ferreira destaca que o problema do acesso à habitação “arrasta-se há muito tempo”, o que afeta toda a população. “O que mais atingirá a população idosa é não termos uma lei do arrendamento equilibrada”, salienta. Tal dificulta a reabilitação das habitações, que ocorre “cada vez menos” e prejudica o dia-a-dia dos mais velhos, muitas vezes a viver em prédios em más condições ou sem elevador.
O Projeto Radar, liderado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e assente numa “parceria colaborativa” com entidades como a Câmara Municipal de Lisboa ou a Polícia de Segurança Pública, é um exemplo de como “criar uma dinâmica comunitária, de proximidade, local, envolvendo todos os atores da cidade”, explica Mário Rui André.
Com uma abordagem integrada e partilha de informação e conhecimento entre diferentes organizações, é possível gerar “mecanismos de coesão social, de forma a não deixar ninguém para trás”. O projeto inclui mais de 33 mil pessoas, cujas necessidades são sinalizadas por 4500 radares comunitários, o que permite adequar as respostas. O objetivo é que seja alargado a nível nacional.
O comércio e os serviços, enquanto “componente essencial da vida urbana”, devem procurar responder às “necessidades específicas das populações mais idosas”, contribuindo para uma maior qualidade de vida, considera José António Cortez.
A assistência domiciliária a idosos “tem vindo a crescer”, mas continua a existir um “grande défice” de oferta. Faltam pessoas para desempenhar estas funções e maior qualificação e formação, assim como uma plataforma que reúna os serviços disponíveis.
Para Ana Clara Silva, o principal desafio é a mudança de mentalidade. “Precisamos de mudar a forma como se olha para a longevidade”, defende. É necessário “proteger os mais vulneráveis e dependentes”, mas também encarar a longevidade como uma oportunidade, valorizando as pessoas com mais de 50 anos.
Devido à condição insular, o desafio demográfico na Madeira “tem um peso muito grande do ponto de vista da exigência”. “Estamos a olhar para a região como um ecossistema, com pequenos ecossistemas locais. Queremos chamar todos à ação.”
Na área do senior living, Hugo Santos Ferreira indica que ainda se está numa fase de procurar perceber que conceito funciona em Portugal e qual a viabilidade do negócio, que “tem merecido a atenção dos investidores”.
O presidente da APPII destaca a população com mais de 55 anos, com uma vida ativa, mas que poderá ter interesse em residências com algum tipo de assistência, de forma a preparar o período de reforma.
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