Os cerca de oito milhões de eleitores gregos apostaram, nas legislativas de domingo, pela permanência no poder dos conservadores da Nova Democracia (ND). Dando a vitória ao primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, rejeitaram a viragem à esquerda proposta pelo líder do Syriza (esquerda radical), Alexis Tsipras.
Com cerca de 91% dos votos escrutinados, a ND (no poder desde 2019) tinha 40,8% dos votos expressos, isto é, 20 pontos percentuais de vantagem face ao Syriza, que somava 20,1%, muito abaixo das previsões das sondagens.
Em 2019, a ND obtivera 39,9%, garantindo maioria absoluta devido a uma lei eleitoral — entretanto revogada, mas que voltará a vigorar no próximo escrutínio — que concedia um bónus de 50 deputados ao partidos mais votado. O Syriza teve, então, 31,5%.
Em terceiro lugar, este ano, surgem os sociais-democratas do Pasok-Kinal, com 11,6% (8,1% há quatro anos) seguidos pelo Partido Comunista da Grécia (KKE) com 7% (5,3% em 2019) e a nova formação de extrema-direita Rumo à Liberdade (Plefsi Eleftherias), com 4,5%.
Varoufakis falha eleição para o Parlamento
Com 2,6%, o partido de esquerda MeRA25 , do ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis, fica fora do Parlamento. Não superou a barreira dos 3% para garantir presença num hemiciclo com 300 deputados.
Em comunicado, reagindo aos resultados, o partido de Varoufakis considerou que “a erdoganização e a orbanização do país estão completas”, numa referência aos regimes da Turquia e da Hungria. O MeRA25 atribuiu a vitória por “esmagadora maioria de Mitsotakis Ltd” à liderança do Syriza, que não aceitou “uma convergência pré-eleitoral numa frente comum a favor da rutura”.
O eleitorado expressou claro apoio à gestão económica conservadora e liberal protagonizada por Mitsotakis nos últimos quatro anos. Foram as primeiras eleições desde que a economia grega deixou de estar sob estrita supervisão dos credores internacionais, que lhe forneceram avultados empréstimos durante a crise da dívida, que em 2010 deixou o país à beira da falência e se prolongou por uma década, assinala a agência noticiosa Efe.
Apesar de continuar a ser um dos países mais pobres da União Europeia (UE), a sua economia cresceu 8,4% e 5,9%, respetivamente, em 2021 e 2022, muito acima da média europeia. Os investimentos estrangeiros aumentaram significativamente, e a recuperação económica permitiu a Mitsotakis baixar impostos, subir pensões e o salário mínimo.
“O resultado demonstrou que a ND tem a aprovação dos cidadãos para governar sozinha”, disse o primeiro-ministro. Deixa antever que, caso falhem as negociações com os outros partidos, poderá haver novas eleições, em que procuraria, com a ajuda do bónus de 50 deputados, garantir a maioria absoluta.
Esquerda grega mais debilitada
Nenhum dos partidos ou coligações conseguiu maioria absoluta. Assim, a Presidente Katerina Sakellaropoulou dará mandatos aos chefes das três forças mais votadas para tentarem assegurar a confiança do Parlamento. São os da ND (Mitsokakis), Syriza (Tsipras) e Pasok (Nikos Androulakis). Cada um destes mandatos, sucessivos, tem validade de três dias.
Se não for possível cada uma destas formações formar um Executivo, a chefe de Estado tentará fomentar um entendimento entre os vários partidos para um Governo de gestão, marcando novas eleições. O jornal ateniense “Kathimerini” prevê que o prazo não se esgote, dada a clareza da votação de domingo. Outros meios de comunicação helénicos admitem legislativas entre fim de junho e início de julho.
“Temos de protagonizar mudanças mais radicais para reduzir o terreno que nos separa da Europa”, defende Mitsotakis, para quem isso não pode ser feito com alianças “inseguras”.
Os eleitores gregos castigaram o Syriza, principal partido da oposição, liderado pelo ex-primeiro-ministro Tsipras. A esquerda grega surge mais fragmentada. Tsipras não persuadiu o eleitorado das “grandes mudanças” que prometia, com muitos a recordarem as dolorosas reformas que aceitou aplicar para garantir um terceiro resgate financeiro em 2015.
Na Grécia permanecem vivas as recordações desse período de polarização após a convocação de um referendo contra a austeridade imposta pelos credores internacionais, com a população a recusar as medidas da troika e Tsipras, de seguida, a aceitar o novo resgate, que permitiu ao país permanecer na zona euro. “Falei com Mitsotakis e felicitei-o pela vitória”, disse Tsipras numa mensagem em vídeo, na qual admitiu a derrota do seu partido.
A oposição não conseguiu beneficiar do elevado custo de vida, um dos temas da campanha, do crescente autoritarismo do Governo, ou de escândalos, além do grave acidente ferroviário que vitimou 57 pessoas e desencadeou uma vaga de protestos. A taxa de participação situou-se nos 60,6%, três pontos acima de 2019.
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