Internacional

Noiva do Cordeiro, a cidade brasileira onde só vivem mulheres

3 setembro 2014 23:08

Mapa do Brasil

No estado de Minas Gerais há uma pacata cidade rural abandonada pelos homens. As mulheres, organizaram-se em comunidade e dão no duro para ganhar a vida com uma agricultura próspera. A imprensa internacional fez circular a notícia de que andavam à procura de noivos e o sossego acabou.

3 setembro 2014 23:08

Há menos de duas semanas poucos estrangeiros teriam ouvido falar de Noiva do Cordeiro. E brasileiros também não seriam muitos os que sabiam da existência desta pequena e pacata cidade de Minas Gerais, onde praticamente só vivem mulheres.

Os homens partiram em busca de trabalho, embora alguns regressem ao fim-de-semana para descansar e ver a família.

A vidinha era simples e o sossego grande até 27 de agosto último, dia em que o jornal britânico "The Telegraph" publicou um artigo assinado por Donna Bowater e Matt Roper, intitulado "Residentes de Noiva do Cordeiro, quase todas mulheres, procuram solteiros". A frase mulheres procuram homens solteiros teve um efeito viral e muitos títulos da imprensa internacional, do "Huffington Post" ao "Daily Mail", passando por jornais turcos, replicaram a notícia do "The Telegraph.

De acordo com o jornal britânico, trata-se de uma "pequena cidade rural escondida nas colinas, povoada por belas mulheres que estão à procura de amor". Há 600 mulheres que foram "deixadas a arcar com os encargos da cidade sozinhas. A situação tem levado algumas destas mulheres, conhecidas em todo o Brasil pela sua beleza, a fazer um apelo para encontrar homens solteiros". 

Os repórteres do "The Telegraph" escrevem que algumas das mulheres lhes disseram que não beijaram "um homem por longo tempo" e que têm o "sonho de se apaixonar e casar. Mas gostamos de viver aqui e não queremos sair da cidade para encontrar um marido", que esteja disposto a "concordar em fazer o que dizemos e viver de acordo com as nossas regras".

População não gostou do retrato que circulou pelo mundo

O Expresso tentou contactar duas mulheres de Noiva do Cordeiro, uma delas Rosalee Fernandes, 49 anos, que conversou conversou com a BBC Brasil. Esta "moradora no local desde a infância, é uma das "entrevistadas" que aparecem em jornais como os britânicos Daily Mail e o Metro, e em websites como o Huffington Post", escreve o correspondente da BBC em São Paulo, Ricardo Senra

"Não dei entrevista" nenhuma diz Rosalee citada pela BBC: "Colocar a gente nessa situação é um absurdo." Outros três moradores do "povoado garantiram que as reportagens publicadas no exterior não têm fundamento. A população de Noiva do Cordeiro, segundo eles, não é composta por 600 solteiras, mas por aproximadamente 300 pessoas, homens e mulheres, em proporção similar".



"Um dos jornalistas internacionais por trás das reportagens insistiu no Twitter que seu texto foi baseado em uma entrevista feita por ele em pessoa", escreve a BBC Brasil.

 

Internet "aqui é do governo e caiu"

O "Globo.com" também relata os desabafos de Rosalee Fernandes: "a internet aqui é do governo e caiu há uns dias. A gente está sem acesso a nada e não faz ideia do que está saindo sobre nós", disse a representante de Noiva do Cordeiro, acrescentando que em pelo menos uma das reportagens publicadas na imprensa estrangeira "foram usadas fotos que mostram as mulheres em poses e trajes provocantes. As fotos foram tiradas numa festa defantasia e publicadas na página da associação local no Facebook".

Na terra vivem "pessoas de origem humilde, na maioria sem ensino médio completo, que se organizam na cooperativa,onde tudo é decidido coletivamente", escreve o "Globo.com": "diariamente, trabalham na lavoura ou na produção de peças de artesanato, como tapetes, colchas e lingeries, e produtos rurais, derivados do leite e da pecuária. Na ausência de homens nos dias úteis, a associação local foi o caminho encontrado pelas mulheres para se ajudarem mutuamente e enfrentar o preconceito dos vilarejos do entorno.  que, no passado, moradores das cidades vizinhas chegaram a taxar as moradoras como prostitutas - pelo simples fato de estarem desacompanhadas".

A verdade é que página do facebook da comunidade de Noiva do Cordeiro não mostra mulheres desesperadas à procura de um homem, mesmo que este esteja disposto a ser um marido de sonhos que satisfaça as vontades e capricho da sua esposa.  E ao que parece, "elas dizem ter conseguido complementar a renda familiar por meio do trabalho coletivo", acrescenta o "Gobo.com".

De futuro, talvez tenham de prestar mais atenção às fotos tiradas nas festas de "fantasia" que publicam no Facebook...