15 outubro 2014 12:40

A cantora Alicia Keys associou-se ao protesto em Nova Iorque junto do consulado da Nigéria nos EUA, a propósito da passagem dos seis meses de cativeiro das raparigas nigerianas pelo Boko Haram
jewel samad/afp/getty images
Contaram-se esta terça-feira seis meses desde que 276 raparigas foram raptadas pelo grupo islamista Boko Haram na Nigéria. O dia ficou marcado pela indignação expressa à escala global e Alicia Keys e Malala Yousafzai associaram-se à causa.
15 outubro 2014 12:40
Há seis meses, cerca de 276 raparigas foram raptadas em Chibok, no estado de Borno, norte da Nigéria, por membros da milícia radical islâmica Boko Haram. No país africano, o dia desta terça-feira foi marcado por protestos que exigem a libertação das raparigas e reclamam mais ação por parte do Governo.
Cerca de 60 ativistas da campanha "Bring Back Our Girls" (Tragam as nossas raparigas de volta) organizaram uma marcha junto à residência oficial do Presidente nigeriano Goodluck Jonathan, em Abuja, a capital. A residência do chefe de Estado encontrava-se então guardada por cerca de 150 guardas, segundo relata a agência Reuters. Vários grupos de manifestantes terão sido impedidos pelas autoridades, no início da rua, de se juntarem aos mesmos protestos.
Na noite de 14 de abril, membros do Boko Haram conseguiram tirar as 276 raparigas dos dormitórios da sua escola secondária. Desde então, apenas 57 conseguiram escapar.
O ato violento chocou o mundo, que tem expressado a sua solidariedade nas redes sociais, sobretudo através do hashtag BringBackOurGirls, no Twitter. A campanha homónima tem levado a cabo marchas sucessivas em Abuja. Também uma petição online em change-org, lançada no início do ano por Ify Eleuze, uma estudante nigeriana na Alemanha, conta já com mais de um milhão de assinaturas.
A indignação dos familiares das raparigas contra a incapacidade de ação eficaz por parte das autoridades nigerianas aumentou aquando da libertação de 27 reféns do Boko Haram nos Camarões, no passado sábado.
"A certo ponto, pensámos organizar funerais para as raparigas, como a nossa tradição dita", contou à France Presse Enoch Mark, pai e tio de duas raparigas raptadas. Todavia, "a descoberta de uma rapariga no mês passado, que foi raptada pelo Boko Haram em janeiro, deu-nos uma esperança renovada", afirmou.
"Na nossa cultura se alguém desapareceu há três meses nós rezamos. Porque acreditamos que eles devem ter morrido", afirma Mark à estação norte-americana Bloomerang.
O Boko Haram trava desde 2009 uma rebelião progressivamente mais sangrenta na tentativa de instaurar um estado islâmico no país. O grupo já terá causado a morte de mais de 13 mil pessoas, segundo uma estimativa do Presidente Gooduluck Jonathan no mês passado, de acordo com os "media" nigerianos.
Pouco depois do rapto das raparigas, que ocorreu junto à fronteira com os Camarões, a milícia islâmica divulgou um vídeo mostrando cerca de 100 delas. Nas imagens, o líder do Boko Haram (que significa "A educação ocidental é proibida"), Abubakar Shekau, diz que as raparigas foram convertidas ao Islão e só serão libertadas em caso de troca com prisioneiros. Caso contrário, as jovens seriam "vendidas" e "casadas" à força.
Jonathan afirmou na segunda-feira que os dirigentes dos vizinhos Camarões, Chade, Níger e Benim vão concluir o posicionamento de tropas de uma força multinacional contra o Boko Haram a 1 de novembro.
OS EUA têm sido uma das nações mais empenhadas nesta causa: esta terça-feira, a conselheira do Presidente para a Segurança Nacional, Susan Rice, afirmou que Washington continuará a ajudar a Nigéria na busca pelas raparigas. Uma ajuda traduzida em conselhos, informação e pessoal.
Alicia Keys e Malala Yousafzai juntam-se à causa
A cantora Alicia Keys protagonizou esta terça-feira um protesto em Nova Iorque perante o consulado da Nigéria nos EUA, associando-se à passagem dos seis meses de cativeiro. Os manifestantes cantavam "Bring Back Our Girls" e empunhvam placas onde se podia ler: "Estamos aqui" e "Escolas Seguras Já!".
"Hoje é o aniversário do meu filho e isso também me faz estar solidária com as mães das raparigas de Chibok [cidade onde foram raptadas] que foram raptadas há seis meses e continuam desaparecidas. O que está a acontecer é revoltante", afirmou Alicia Keys à Associated Press.
A mais recente galardoada com o Prémio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, também apelou no mesmo dia à libertação das 219 raparigas que continuam nas mãos do Boko Haram. Malala afirmou que os ativistas devem levantar as suas vozes "mais alto do que nunca", lê-se em comunicado.
"Incito o Governo nigeriano e a comunidade internacional a redobrarem os seus esforços para trazerem uma conclusão rápida e pacífica a esta crise", acrescentava ainda a paquistanesa.